ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Dzi Croquettes: arte subversiva dos palcos para o cinema |
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Autor | Matheus Araujo dos Santos |
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Coautor | Cíntia Guedes Braga |
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Resumo Expandido | Tendo em vista que “o processo de produção de imagens cinematográficas implica necessariamente em inscrever nestas imagens uma subjetividade”, como afirma Silvio Da-Rin ao falar sobre o cinema documentário em Espelho Partido (2004, P.145), propomos uma análise do filme Dzi Croquettes (2009), dirigido por Tatiana Issa e Raphael Alvarez, a fim de observar a produção de subjetividades a partir dos estudos queer. Queer, na língua inglesa, significa estranho, esquisito, excêntrico, raro. É também um termo usado para designar sujeitos que se afastam das normativas hegemônicas de sexos, gêneros e desejos. Por muito tempo o termo foi usado apenas como injúria, xingamento, modo de subjugação. A partir dos anos 90, a palavra sofre um processo de positivação e começa a ser utilizada pelos próprios sujeitos que assumem politicamente uma posição desviante. O centro passa a não ser necessariamente a referência desejada. O trânsito, o limiar, a margem assumem um poderoso valor estratégico de transgressão. Contrariando a estratégia essencialista, na qual assumir identidades sexuais como biologicamente dadas seria uma forma de resistência de gays e lésbicas, a perspectiva queer entende esse posicionamento como assimilacionista e reacionário, optando por valorizar a diferença num posicionamento pós-identitário que politiza a chamada 'abjeção', os corpos não representados, social e politicamente, e portanto, não inteligíveis em uma perspectiva hegemônica. Muitos autores apontam, então, para uma possível discussão queer na produção artística, que estaria presente, por exemplo, no trabalho de artistas como Francis Bacon e Jan Saudek. No campo do cinema, que aqui nos interessa, alguns autores apontam o surgimento do New Queer Cinema (Straayer, 1996). Um cinema que, rejeitando uma abordagem sensacionalista, apostaria numa maior atenção às diferentes subjetividade não-normativas. Dentre os cineastas que fariam parte de tal movimento nomes como Pedro Almodóvar, Derek Jerman, Gus Van Sant e John Cameron Mitchell são comumente citados. Mas podemos pensar numa arte queer no Brasil? O que teríamos de levar em consideração a respeito das especificidades da construção histórica do país para discutirmos tal possibilidade? Existe uma estética queer no cinema? Ou para sê-lo basta contar uma história queer? Com estas questões em mente, propomos uma discussão sobre a representação cinematográfica de uma experiência queer na arte brasileira setentista a partir do filme citado, que conta a trajetória de um grupo de treze bailarinos e atores que, em pleno regime militar ditatorial, revolucionou a linguagem teatral e o cenário artístico brasileiro, conquistando admiradores que, mais do que ver os espetáculos, adotavam um estilo de vida Dzi e, como eles, falavam e agiam de modo a perturbar os alicerces que estruturam uma sociedade sexista e homofóbica. |
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Bibliografia | BUTLER, Judith. Gender Truble. Feminism and the Subversion of Identity. 3 ed. New York, Routledge, 2006. DA-RIN, Silvio. Espelho Partido. Rio de Janeiro: Azougue Editorial, 2004 MULVEY, Laura Cinema e Sexualidade. In: Ismail Xavier (org.). O Cinema do Século. Rio de Janeiro: Imago, 1983, p.123-139. PRINS, Baukje; MEIJER, Irene Costera. Como os corpos se tornam matéria: entrevista com Judith Butler. In Revista: Estudos Feministas. Florianópolis, v. 10, n. 1, janeiro de 2002. RABINOW, Paul. Representações são fatos sociais: modernidade e pós – modernidade na antropologia. In: Antropologia da razão. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1999. p. 71-108. RICALDE, Mariacruz Castro. Feminismo y teoria cinematográfica. In: Escritos, Revista Del Centro de Ciências Del Lenguaje, 20, p.23-48. Puebla, 2002 STRAYEER, Chris. Deviant eyes, deviant bodies: sexual re-orientation in film and videos. New York: Columbia University Press, 1996. |