ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Sonoridades musicais em Pierrot Le fou: pequena análise e relações com a educação musical |
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Autor | Glauber Resende Domingues |
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Resumo Expandido | Um filme, normalmente, é o resultado de um diálogo entre diversas linguagens. Música, pintura e também a linguagem da poesia. Estas interações são muito visíveis em quase toda, quiçá em toda a obra de Jean-Luc Godard. Godard foi um cineasta francês que marcou a “literatura” cinematográfica por conta do modo inquietante como tratava suas películas (COUTINHO, 2010). Estas interações entre as linguagens artísticas em seu cinema causavam certo estranhamento aos expectadores, por conta de tamanha polifonia, conceito este organizado por Sergei Eisenstein e bem recentemente trazido por Carrasco (2003), aplicando o conceito à música de um filme. Pierrot le fou, uma das obras mais magistrais de Godard é exemplo de como a combinação das linguagens é difusa. Pensando na linguagem musical, é possível estabelecer alguns questionamentos e, por fim, alguns possíveis apontamentos sobre o significado das escolhas musicais que Godard fez para este filme. O ponto de partida para a análise será o conceito de diegese. Souriau apud Aumont & Marie (2003), aponta que fatos diegéticos “são aqueles relativos à história representada na tela, relativos à apresentação em projeção diante dos espectadores”. (p. 77). Deste modo, o conceito de diegese tem a ver com a narrativa do filme, com tudo aquilo que está na narrativa do filme. Ouso afirmar que Gorbman (1987) desenvolveu o conceito de música diegética e não-diegética a partir desta ideia. A autora desenvolve funções de uma composição musical num filme a partir da ideia de diegese. As ideias são desenvolvidas basicamente a partir do cinema clássico, das composições de Max Steiner. À primeira vista, estas funções não poderiam ser aplicadas aqui, mas o que legitima seu uso é o fato de ela ter se inspirado na psicanálise para desenvolver as funções da música num filme. Como a música em Pierrot le fou é carregada de emoções, estas funções podem fazer parte da presente análise. Deste modo, ela apresenta sete princípios de “composição, mixagem e edição”, que são os seguintes:
1. Invisibilidade: o aparato técnico da música não diegética não deve ser visível. 2. Inaudibilidade: a música não está lá [no filme] para ser ouvida conscientemente. Como tal deve se subordinar aos diálogos e imagens – isto é aos veículos primários da narrativa. 3. Provocador de emoções: a trilha musical pode estabelecer atmosferas ou climas específicos [moods] e enfatizar emoções particulares sugeridas na narrativa, mas fundamentalmente, ela é um provocador de emoções per se. 4. Indicações narrativas: a. referenciais/narrativas: a música provê indicações referenciais e narrativas, por exemplo indicando um ponto de vista, proporcionando demarcações formais e estabelecendo conjunturas e caracteres; b. conotativas: a música ‘interpreta’ e ‘ilustra’ eventos narrativos. 5.Continuidade: a música proporciona continuidade rítmica e formal – entre planos, em transições entre cenas, preenchendo os ‘interstícios’. 6. Unidade: a partir da repetição e variação do material musical e da instrumentação, a música auxilia na construção da unidade formal e narrativa. 7. Uma dada composição [film score] pode violar qualquer um dos princípios acima, contanto que a violação esteja a serviço de outro princípio. (p. 73) Partindo destes parâmetros propostos pela autora, a intenção deste trabalho é da realizar uma análise microgenética (FRESQUET, 2008) de duas cenas de Pierrot le fou, onde as personagens principais, Ferdinand e Marianne, travam um diálogo onde eles usam a música. Os parâmetros para esta análise vão ter relação com as teorizações de Gorbman (op. Cit.) Com os resultados pretende-se ainda pensar que rumos este filme aponta para uma possível educação musical para a música de cinema e que ideias educativo-musicais da música de cinema estão presentes nesta película godardiana, ou seja, o que Godard ensina com estes diálogos. |
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Bibliografia | AUMONT, Jacques & MARIE, Michel. Dicionário teórico e crítico de cinema. 8ª ed. Campinas, SP: Papirus, 2003.
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