ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Indícios alegóricos da nação portuguesa em Um filme falado |
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Autor | Wiliam Pianco dos Santos |
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Resumo Expandido | Um Filme Falado narra a história de Rosa Maria (uma professora de História), que no ano de 2001 viaja pelo Mar Mediterrâneo com sua filha Maria Joana, em direção à Índia, aonde encontrarão com o pai da menina. Durante a viagem, elas visitam locais emblemáticos da constituição de civilizações ocidentais e orientais. Partindo de Lisboa, elas passam por Marselha, Nápoles, Pompéia, Atenas, Istambul, Cairo e Aden. Enquanto viajam, a mãe trata de explicar à filha a importância de tais cidades, naquilo que elas têm de relevante para a História Antiga, Medieval, Moderna e Contemporânea.
O objetivo desta comunicação é a investigação dos sentidos que apontam para o reconhecimento dessas personagens portuguesas como sendo personificações alegóricas de sua respectiva nação. Assim, nossas considerações partem da perspectiva de que existe em Um filme falado certa “expressão alegórica”. No caso de Rosa Maria e Maria Joana, interessa-nos verificar como a relação entre ambas indicaria uma leitura sobre aquela nação a partir da perspectiva de gerações distintas que se encontram em permanente contato, explorando para isso aspectos relacionados à História de Portugal. As características próprias do filme em questão indicam uma obra privilegiada dentro do corpus oliveiriano, por instigar reflexões que colocam em pauta não só a nação portuguesa, mas a configuração geopolítica dentro de um panorama histórico que implica no entendimento de um mundo globalizado, tal como o notamos na contemporaneidade. Nele também podemos observar uma ordenação narrativa que privilegia o vínculo entre os eventos decorridos a partir dos Descobrimentos, passando pela Batalha de Alcácer-Quibir (1578) até alcançar a Revolução de 25 de abril de 1974, estendendo-se para episódios históricos futuros. Aqui pretendemos verificar o contraste (em certo sentido, embate) a partir da relação mãe-filha, que implicaria uma dada transição de gerações em Portugal, sugerindo, dessa forma, que as personagens Rosa Maria e Maria Joana são personificações alegóricas da nação portuguesa, mas em momentos distintos de sua própria História. Nosso método de análise pressupõe estabelecer relações entre dois pólos comparados para se alcançar o termo comum que estabelece dado caráter alegórico para uma figura. Propomos que é na verificação da História portuguesa que estarão as respostas pertinentes para os indícios que apontam para as respectivas construções alegóricas. Dessa forma, há duas perspectivas em jogo quando observadas as protagonistas desse filme: embora a viagem seja feita em conjunto, para um mesmo destino e, a rigor, com o mesmo objetivo, elas passarão por experiências independentes uma da outra nesse processo. Vale lembrar que Rosa Maria aproveita a viagem para conhecer os lugares que “só conhecia pelos livros”. Ou seja, sua “narrativa” está pautada por um discurso oficial que é mantido ou desmentido ao passo que descobre os lugares que visitam. Mas Maria Joana não tem essa referência, assim, aquilo que ela “sabe” e o que “não sabe” é posto em jogo como um diálogo, aparentemente simples, mas que denuncia as fissuras do discurso de sua mãe. Para Manoel de Oliveira, os eventos decorridos a partir da Revolução de 25 de abril de 1974, associados ao mito do sebastianismo, e às consequências advindas com os Descobrimentos são determinantes para contextualizar a nação portuguesa dentro do tempo e, principalmente, para delimitar uma fissura na percepção de sua História. Assim, cabe-nos reconhecer os indícios que tornam essas associações possíveis. Em outras palavras, quais eventos relacionados a Portugal servem para comprovar que Rosa Maria e Maria Joana, de fato, tratam de gerações distintas? – E quando dizemos “gerações distintas” não nos referimos ao intervalo atribuído por serem mãe e filha. Quais os fatores que determinam a ruptura de uma geração sobre a outra? Qual é esse intervalo? Quando e por que ele acontece? São as questões que norteiam esta proposta de comunicação. |
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Bibliografia | ANDERSON, B. Nação e consciência nacional. Trad. Lólio Lourenço de Oliveira. São Paulo: Editora Ática, 1989; AUMONT, J.; MARIE, M. L’analyse des films. Paris: Nathan, 1989; BARTHES, R. Mitologias. Trad. Rita Buongermino e Pedro de Souza. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 9° ed. 1993; GENETTE, G. Discurso da narrativa. Trad. Fernando Cabral Martins. Lisboa: Vega Ltda., 1972; HOBSBAWM, E. Era dos extremos. Trad. Marcos Satarrita. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. 2°ed.; IANNI, O. Enigmas da modernidade-mundo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000; JUNQUEIRA, R. S. (org.). Manoel de Oliveira: uma presença: estudos de literatura e cinema. São Paulo: Perspectiva: Fapesp, 2010; LOURENÇO, E. O labirinto da saudade. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2° ed., 1982; MORGADO, F. I. O leme e a deriva – Problemas da sociedade portuguesa. Lisboa: Livros Horizonte Ltda, 1989; XAVIER, I. A alegoria histórica. In: FERNÃO, Ramos. Teoria Contemporânea do Cinema. São Paulo: SENAC, 2005.
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