ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Ditadura Militar – do cinema político ao histórico |
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Autor | Helena Stigger |
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Resumo Expandido | Temos a tendência de comparar os filmes brasileiros contemporâneos aos filmes de cunho mais político e social produzidos nas décadas de 1960 e 1970, especialmente as obras inseridas dentro do contexto do movimento de Cinema Novo. Por força desta influência, esse modo de pensar acaba, muitas vezes, produzindo uma análise ineficaz para a filmografia nacional contemporânea. Guiados por essa tendência natural, em alguns casos, acabamos por desconsiderar os diferentes contextos das obras produzidas. Nas palavras de Luiz Zanin Oricchio referindo-se ao Cinema Novo (2003, p.229) “uma tradição deve inspirar, e não inibir. Cria-se a partir dela, talvez contra ela ou apesar dela. O que é vital, desde que não a tenhamos como peça de museu, fantasma assustador ou parâmetro inatingível em relação aos quais todas as comparações são desfavoráveis”. Mas para este tema que o presente artigo analisa - a representação da ditadura militar no cinema - nos parece que é impossível ignorar a trajetória estética do cinema brasileiro. Porque a ditadura militar vem sendo representada no cinema desde o seu nascimento e naquelas primeiras obras, acreditamos que havia uma maior preocupação estética em contraste com alguns filmes de hoje sobre o mesmo tema, que acabam se tornando tão parecidos uns com os outros ao ponto de supomos que está surgindo a criação de um novo gênero: filmes históricos sobre a ditadura militar.
Para o desenvolvimento deste estudo, primeiramente vamos estudar as características do Cinema Novo. Em especial, o texto de Glauber Rocha Estética da fome que o autor Fernão Ramos (2007) sublinha como a criação de um cinema militante preocupado com uma “ética na estética”. Ao especificar este conceito, passamos a entender que o Cinema Novo criava um tipo de cinema fundado em interesses de modificar o Brasil através da arte. Assim, temos um cinema político e social orientado para a elaboração, num primeiro momento, depois para a compreensão da identidade nacional. Amparados por esses conceitos, seguimos nossas análises buscando entender se o cinema atual brasileiro, no momento em que é transformado em um filme de gênero, se essa condição não os esvaziaria seu conteúdo político social. Obviamente, nesse estudo, não ignoramos a existência de filmes nacionais contemporâneos que possuem uma tônica social bastante importante para um debate sobre identidade nacional e problemas sociais brasileiros. No entanto, esses filmes não são aqueles que retratam a ditadura militar, salvo algumas exceções como a obra de Murat, Quase dois irmãos. Em sua maioria, os filmes sobre a ditadura militar, ao se tornarem tão descritivos, acabam pecando pelo enfraquecimento estético que não atinge uma ressonância política e social junto ao espectador. Sobre os filmes sociais contemporâneos, algumas palavras ainda precisam ser ditas, em conformidade com Oricchio (2003), hoje o cinema nacional continua interessado em delinear uma identidade brasileira ao retratar alguns de nossos problemas sociais. E uma nova estética cinematográfica surge junto com esse projeto, precisamente com Cidade de Deus (Fernando Meireles, 2002). Nesse filme temos uma linguagem que mistura elementos da publicidade e do vídeo clip, fato que levou alguns críticos como Ivana Bentes a nomear esse tipo de recurso estético de “cosmética da fome” (ORICCHIO, 2003, p.229). Deixando para outro momento essas polêmicas, nos cabe entender que os filmes sobre a ditadura militar não inovam esteticamente. Nesse panorama, mesmo as imagens de tortura, ao se tornarem sistemáticas, perdem seu caráter polêmico. Enfim, para seguirmos nosso estudo optamos por analisar dois filmes como amostragem de cada período: Terra em transe (Glauber Rocha, 1967) e Zuzu Angel. Assim, a partir destes dois exemplos, acreditamos evidenciar as diferenças do cinema sobre a ditadura militar das décadas de 1960-70 e o cinema que tem sido feito após o fim da Lei de Anistia (1979). |
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Bibliografia | AGAMBEN, Giorgio. Estado de exceção. São Paulo: Boitempo, 2003.
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