ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Real ou imaginária? Um olhar sobre a construção de cidade em Budapeste |
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Autor | Mirela Souto Alves |
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Coautor | Milene de Cássia Silveira Gusmão |
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Resumo Expandido | Este artigo é fruto de uma análise inicial de pesquisa em desenvolvimento no mestrado em Memória: Linguagem e Sociedade e problematiza como a cidade da memória aparece no filme Budapeste (2009). Buscamos responder às seguintes questões: é real ou imaginária a cidade da memória? Como a cidade “imaginada” de Budapeste é apresentada no filme? Como ela é construída através de símbolos (os signos da cidade)?
A relação que cinema mantém com a cidade não é atual. Ela existe desde a exibição do primeiro filme, que, a rigor, se desenvolveu dentro do espaço urbano proporcionando uma audiência também urbana a um espaço (lugar) de recepção. Assim, o cinema então se constitui como construtor do espaço urbano. “O momento da história das cidades, contemporâneo ao cinema, adota um modo de representação que coincide como os modelos cinematográficos, ou se inspira neles” (COMOLLI, 1994:153). Desse modo,“(...) a imagem da cidade é conceito abstrato, uma forma imaginária construída” (BOYER,1994). O filme Budapeste, de Walter Carvalho baseado no romance do compositor e cantor Chico Buarque, possui uma relação com o tema “cidade”, a começar pelo próprio título do filme.Toda a narrativa da película se passa, inclusive, entre dois espaços urbanos: Rio de Janeiro e Budapeste. O diretor quis transpor nesses ambientes a história de um escritor anônimo (Jose Costa) que se encarrega de narrar a sua história enquanto escreve a de outros e que vive uma crise conjugal. Walter Carvalho procura impor múltiplos sentidos à essa obra e coloca o espectador em dúvida sobre o que realmente aconteceu: as cidades são mesmo reais ou não passam de fruto da imaginação e da memória do personagem? Para o desenvolvimento do trabalho, fizemos uma investigação, com base nos métodos da pesquisa bibliográfica, de conteúdo e de análise imagética e examinamos de que maneira a cidade é construída pelo cinema não só a partir dos aspectos físico-geográficos (a paisagem urbana), mas, sobretudo a partir da cartografia simbólica, em que se cruzam o imaginário e a memória. Budapeste, portanto, nos oferece elementos suficientes para essa investigação através das imagens do filme, das técnicas utilizadas no cinema, como movimento de câmera, edição, iluminação, planos, enquadramentos, dentre outros. Elementos que, juntos, constroem uma cidade-memória. Andreas Huyssen (2000) nos lembra que a arquitetura sempre esteve profundamente investida na formação das identidades políticas e nacionais. Assim como Ítalo Calvino, ele vê a cidade como um texto, ou seja, é possível ler a cidade “como um conglomerado de signos” (p.89). Buscamos entender como os espaços reais e imaginários se misturam na nossa mente para moldar noções que tornam as cidades específicas (ou que especificam as noções de cidade). Para isso, traçamos uma discussão sobre memória e espaço urbano para entendermos como se dá a geografia imaginária da cidade em Budapeste. “É então através da cena, da sua fidelidade representativa dos símbolos de uma cidade que é dado o sentido a um espaço urbano” (JEUDY, 1990) Portanto, no que se refere às cidades, como lugares, podemos dizer que elas estão de fato imersas em inúmeras narrativas, coletivas e compartilhadas, que podem não exatamente corresponder à experiência urbana vivida, mas relacionam-se com valores e aspirações dos diversos grupos que acabam sendo reforçados e legitimados via representação. Nossa intenção é de esclarecer que uma análise que dê atenção aos processos de representação – espaço urbano e experiência –, amplia a própria percepção das representações das cidades nos filmes e, portanto, as abordagens subseqüentes. |
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Bibliografia | BOYER, M. Christine. The City of Collective Memory: Its Historical Imagery and Architectural Entertainments. Cambridge, Massachusetts: The MIT Press, 1994.
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