ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Encenação direta – Coisa impossível/ real |
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Autor | Iara Helena Magalhães |
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Resumo Expandido | Este trabalho destina-se a falar de um filme “Piano em Conserto”, dirigido por mim em 2011, assina a direção de fotografia Waldemar Lima. Projeto aprovado pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura, na cidade de Uberlândia, Minas Gerais. Um documentário de 15 minutos, a partir de impressões através do ofício de uma vida inteira de um restaurador e afinador de pianos, Sr. Celso Rocha, de 76 anos. O que me proponho é quase ingênuo, é analisar o modo como o tema da Coisa, do vazio central da coisa impossível-real aparece no espaço diegético dessa narrativa cinematográfica. Utilizei três tipos de encenação: (1) encenação locação, a Coisa como espaço, máquina- mecanismo, a oficina de restauração de pianos linhas retas, luz dourada, em que o fosso entre o simbólico e o real está fechado, isto é os desejos do marcineiro que trabalha a madeira, do aprendiz que faz os bordões e estica cordas e do Sr. Celso afinando pianos se materializam diretamente, o espaço narrativo se torna diretamente produtivo; (2) encenação construída, a Coisa como enigma, uma professora de piano Magaly Otsuka ensaia trechos da balada nº 2 de Chopin, um Outro num ato completamente impenetrável, um círculo, encontro entre início e final. As duas encenações, locação e construída, as linhas retas e o círculo reinscrevem o encontro enigmático com o OUTRO, impressões do fosso entre o filme e a vida em montagem paralela. A terceira e última encenação, a encenação direta, é a da Coisa proibida, piano afinado está em um teatro em construção, o futuro teatro municipal de Uberlândia, um projeto de Oscar Niemayer, diretamente na boca do palco em contra luz, escuro dentro e luz fora, zona de quebras das linhas retas e da curva, distensão do tempo ao infinito. Esta última linha suscita cinco associações: A zona é (1) território isolado do piano afinado; (2) território vazio anterior a um concerto e posterior ao conserto; (3) área exclusiva da arte; (4) território infinito sem fim nem começo; (5) território especular de recepção do filme. O velho afinador entra devagar e finaliza seu trabalho com um gesto, seu modo de encenar gira sobre si mesmo e ele sai. Esta zona da encenação direta caracteriza o que existe prá lá do limite, ou seja, a própria indeterminação. A câmara misteriosa que não tem nada de extraordinário, plena de permanecer vazia, na encenação direta, no limiar da câmera, no final do filme, na encena-ação ou encenação direta, zona misteriosa que é Coisa impossível de ser prevista, o limite que separa a realidade cotidiana do território onde o invisível acontece.
Palavras chave: Arte, Coisa impossível, real, encenação direta |
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Bibliografia | DELEUZE, Gilles. A imagem-movimento. Tradução de Stella Senra. São Paulo: Brasiliense, 1985.
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