ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Empreendedores de si: autorrealização e trabalho no cinema contemporâneo |
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Autor | Bruna Werneck de Andrade Bakker |
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Resumo Expandido | Da segurança de um plano de carreira à sucessão instável de projetos a curto prazo; dos controlados horários de expediente às flexíveis horas de trabalho; da fixidez analógica do escritório à ubiquidade digital. Diante de um cenário tão cambiante, pode parecer contraditório alegar que o espaço de trabalho seja atualmente considerado um meio para a autorrealização pessoal ou, como diria Jacques Donzelot (1991), uma atividade prazerosa.
Recorrente em muitas produções cinematográficas recentes que tenham como temática as trajetórias profissionais de seus protagonistas, a premissa de logar por meio do trabalho o tradicional "final feliz" dos filmes é atualmente adornada com elementos de cunho teraupeutico. Amiúde, o sucesso profissional exposto nas telas não se limita às conquistas meritocráticas galgadas pelos árduos esforços no trabalho. São trajetórias de auto-descoberta que mesclam empreendedorismo, autenticidade e criatividade que ganham atualmente maior destaque midiático. Conforme propõe Alain Eherenberg, este cenário é o mesmo em que a figura do empreendedor, antes tida como "um emblema da dominação dos poderosos sobre os humildes", passa a figurar como modelo de vida heroico, assumindo para si a tomada de riscos e a responsabilidade por seus atos (exitosos ou não). Num movimento que alia liberdade e autonomia dos sujeitos sobre o rumo de suas vidas, teríamos como resultado uma forte auto-referência e exaltação de um modo de vida autêntico, como proposto por Ehrenberg (2010): “Hoje, cada um, independentemente de onde venha, deve realizar a façanha de tornar-se alguém por meio de sua própria singularização” (p. 172) Absoluta em nossos tempos, a urgência em prosperar por meio da profissão já não recorre somente à dignidade de um trabalho bem-feito ou à gratificação de salários bem pagos. Dizer isto não é afirmar que tais formas de satisfação que unem os sujeitos a seus ofícios tenham deixado de existir; mas sim, que é possível vislumbrar forte ênfase à autorrealização por meio do trabalho, tornando a atividade laboral não só prazerosa, como uma fonte de autoconhecimento. Inspirados ou coagidos pelo modelo empreendedor – seja pela falta de oportunidade no mercado de trabalho ou pela incorporação de seus ideias -, estaríamos todos sujeitos às suas consequências. Como ressalta Fabrício Maciel: "o que vivenciamos atualmente é um perverso casamento entre instrumentalismo e romantismo na construção de um sistema que agora se legitima através de sua encantadora promessa de felicidade pessoal através do trabalho" (2006, p. 223) Percebendo o espectro midiático como potencialmente influente na formação, consolidação e legitimação de valores na sociedade contemporânea, torna-se indispensável analisar as formas de representação do mundo do trabalho a partir dos discursos midiáticos produzidos, sobretudo em formato ficcional. A partir dos filmes A rede social (David Fincher, 2010), Amor sem escalas (Jason Reitman, 2009), 500 dias com ela (Mark Webb, 2009) e O diabo veste Prada (David Frankel, 2006), examina-se aqui a articulação da busca por autorrealização no trabalho com ideais de autonomia, liberdade, autenticidade e empreendedorismo. À luz do conceito foucaultiano de governamentalidade neoliberal e de discussões acerca das mudanças no chamado "novo capitalismo" e seus reflexos nas estruturas do mercado de trabalho, oriento esta análise para a forma pela qual novos valores morais e éticos são articulados em um cenário econômico instável. |
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Bibliografia | BOLTANSKY, L. & CHIAPELLO, E. O novo espírito do capitalismo. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2009.
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