ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Filmes de urgência: Wenders em busca da identidade |
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Autor | Ricardo Tsutomu Matsuzawa |
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Resumo Expandido | Este artigo examina o modo como Wim Wenders reflete a América idealizada de sua memória, construída através das produções hollywoodianas, com a realidade do sistema que ele vivencia com sua primeira experiência em Hollywood. Este confronto se faz a partir de uma produção paralela de filmes de ficção e documentários que acaba por refletir sua condição de cineasta em busca de respostas para o conflito entre uma América experimentada na memória e um modo ideal de fazer cinema em seus estúdios.
Nesse contexto, dois tipos de produção se apresentam: 1) os filmes de urgência, no qual o diretor questiona sua identidade como cineasta confrontando a memória que ele tem do cinema americano, a vivência anterior como cineasta alemão e a experiência na América; 2) os diários filmados, no qual procura um lugar para dar continuidade de sua obra. Estas realizações vão levá-lo a transformar o seu olhar sobre a América e a renovar o seu olhar sobre a Alemanha. Neste artigo, observaremos os filmes de urgência: Um Filme para Nick(1980) e O Estado das Coisas (1982). Wim Wenders foi o primeiro cineasta alemão de sua geração a ser convidado para trabalhar em Hollywood. Depois de ter concluído O Amigo Americano, sua primeira co-produção internacional, o cineasta conseguiu se projetar internacionalmente. Nessa época chamou atenção do prestigiado diretor e produtor americano Francis Ford Coppola, que o convidou para dirigir Hammett. Wenders era oriundo do Cinema Novo Alemão. Acostumado a trabalhar com autonomia e espontaneidade, teve dificuldades na realização de seu primeiro filme em Hollywood. Essa experiência foi desgastante, posto que um diretor que trabalhava com procedimentos autorais foi condicionado às duras exigências do estúdio. As concepções criativas eram subordinadas à indústria cinematográfica americana. Hammet teve inúmeros problemas e foram consumidos quatro anos para sua realização. Nesse período, Wenders estava inseguro sobre o seu futuro como realizador e, para tentar discutir o momento que vivia, roda dois filmes de urgência: Um Filme para Nick, onde o próprio Wenders aparece como personagem, em um documento agonizante sobre a morte de um dos grandes realizadores de Hollywood, Nicholas Ray; e O Estado das Coisas, um filme sobre um diretor que não consegue terminar um filme. Percebemos que Wenders faz uma reflexão sobre a sua própria carreira nessas peças de ficção. Dois filmes pequenos e baratos, nos quais o cineasta posiciona-se de forma autoral e independente. “A película era, então, o caminho para aclarar as coisas, para aprender algo ou para compreender algo; ou, às vezes, para rechaçar algo, como em O estado das coisas. Na realidade, cada película foi uma espécie de programa para filmar e um problema que devia ser elucidado de alguma maneira” (WENDERS, 2005, p. 43). Desse modo, os filmes de urgência surgem como resposta a experiência de trabalhar em Hollywood. Em Um Filme para Nick, uma tentativa de ficção sobre uma situação real e em O Estado das Coisas um retrato quase documental de uma situação de ficção. Ambos os filmes falam sobre cinema é são feitos com urgência e impaciência pela impossibilidade de filmar em Hollywood da forma e da maneira que Wenders desejava. Quando vai trabalhar em Hollywood, Wenders carrega em sua memória lembranças de uma América que foram construídas ainda na Alemanha. Confrontado com a América real, não a que se lembrava ou queria lembrar, o cineasta toma consciência que mesmo criado sobre a influência da cultura americana, ele nunca deixaria de ser um alemão. A experiência com Hammett e seus filmes feitos à margem dela, faz com que Wenders reflita em relação à questão da pátria e como as histórias se colocam em seus filmes. A Hollywood que imaginava e que estava presente em sua memória, com os seus heróis como Nick, não existia mais ou jamais existiu. O diretor reflete e experimenta o cinema com seus próprios filmes. Wenders tenta descobrir no seu trabalho a sua identidade e o seu próprio cinema. |
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Bibliografia | BERGSON, Henri. Memória e vida. São Paulo:Martins Fontes, 2006.
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