ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Práticas contemporâneas do found footage: Supermemórias e 16memórias |
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Autor | Sabrina Tenório Luna da Silva |
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Resumo Expandido | O found footage é uma técnica de construção fílmica baseada na remontagem e ressignificação de material fílmico pré-existente. Um dos usos clássicos da técnica pode ser percebido em The Atomic Café (Dir. Jayne Loader, Kevin e Pierce Rafferty, 1982), documentário que utiliza imagens pirateadas que foram veiculadas pelo governo americano durante a 2ª guerra mundial de forma a mostrar os benefícios da bomba atômica.
Nesse contexto, ocorrido nos anos 80 e com exemplos que datam de décadas anteriores, a imagem pirateada tornava clara a localização do found footage dentro do terreno do questionamento político. Porém, atualmente a veiculação de imagens está impossibilitada sem a autorização de uso ou a compra das mesmas. Questionando esse fato, Eduardo Coutinho realizou o filme Um dia na vida (2010), produzido com material filmado de redes de televisão e exibido em uma sessão única, pois adquirir os direitos de imagem impossibilitariam sua comercialização. Acreditamos que devido à impossibilidade de piratear imagens públicas ou alheias, uma das formas de manutenção da prática do found footage é através da realização de filmes com arquivos domésticos. Essa facção vem se desenvolvendo e se tornando particularmente forte a partir da década de 80 como exemplos como o filme The Family Albun, do cineasta americano Alan Berliner, realizado em 1986 e constituído por imagens de filmes caseiros em 16mm provenientes das décadas de 1920, 1930, 1940 e 1950. Outro exemplo é Privát Magyororzágs Hungria Privada, 1988‐1997), do húngaro Pétér Fogács. Na obra o diretor constrói o filme com base em películas caseiras cedidas por habitantes do país e que lhe permitiram reconstruir o passado do país e o passado do próprio cineasta, através da presença de filmes da sua família. (WEIRINCHTER, 2005, p. 57). Atualmente, percebemos o crescimento dessa prática no cinema latino americano, e discutiremos esse crescimento através da análise dos documentários Supermemórias (Brasil, Dir. Danilo Carvalho, 2010) e 16memórias (Colômbia, Dir. Camilo Botero, 2009). Os projetos apresentam em comum o encontro de arquivos audiovisuais que, em outro contexto, estariam cegados pelo não interesse público por seu conteúdo e pela superação da tecnologia utilizada para sua obtenção. No caso de Supermemórias, por exemplo, a obtenção de arquivos em super 8 para a realização do filme teve como benefício imediato para os doadores a transferência desses arquivos para formato digital, possibilitando que as famílias tivessem acesso às imagens contidas no material. Em 16memórias, as imagens foram cedidas diretamente pelo detentor dos arquivos, Mario Posadas Ochoa que impôs como condição para a cessão acompanhar todo o processo de decupagem e de criação do roteiro. O direito ao uso e exploração das imagens nesses filmes lida diretamente com o afeto depositado pelos detentores dos arquivos em seu conteúdo, influenciando diretamente a montagem fílmica pela forma como as mesmas são obtidas e pela carga de memória e de representação de um passado recente depositado nas imagens. Assim, o questionamento da amnésia gerada pelo excesso de imagens seria o foco principal da crítica. Com isso, o resultado final da produção fílmica expressaria um maior sentimentalismo em torno das imagens, nos entregando um material que não se mostra agressivo ou fortemente reflexivo em termos políticos. Isso poderia localizar os filmes fora do contexto transgressor contido no found footage, porém acreditamos que representam outra forma de fazer política através do uso da técnica, pois, além das discussões em torno da autoria e das possibilidades de uso de imagens alheias no cinema contemporâneo, teria como foco a questão que acreditamos principal nestes filmes: a representação de uma memória narrada por meios não oficiais através de arquivos amadores, suscitando questões de ordem coletiva através de materiais privados. |
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Bibliografia | ARTHUR, Paul. The status of found footage. Spectator, vol, 20/1, 1999-2000.
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