ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | O documental na obra de Ozualdo Candeias |
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Autor | Alessandro Constantino Gamo |
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Resumo Expandido | Há uma tensão na relação entre a opção documental e a ficcional nos filmes de Ozualdo R. Candeias. Uma tensão que reflete as variadas formas que assume o cinema documentário entre os anos 1950 e 1970 e a insistência do diretor em marcar uma posição autoral.
No início de seu trabalho com cinema, nos anos 1950, Candeias exerceu a função de cinegrafista para diversos cine-jornais pelo Brasil, como o World Press, o Bandeirantes da Tela e o Notícias Catarinenses, e trabalhou para as produtoras de Jorge Neto, para a Jota Filmes, a Campos Filmes, a produtora de Primo Carbonari, entre outras pequenas produtoras cinematográficas e cine-jornais regionais de existência mais curta. Vem daí boa parte de seu aprendizado e treinamento no manejo das câmeras 35mm e também do desenvolvimento de uma noção de enquadramento e movimentação de câmera muito particular que ressoam, em sua obra posterior, na relação que o diretor estabelecia com os objetos e pessoas filmados. Percebe-se que, pouco a pouco, Candeias começou a se destacar no panorama dos cinegrafistas, o que, curiosamente, possibilitou uma relação mais completa na elaboração do produto final. No começo, as imagens por ele registradas para abordar os temas de reportagens que lhe eram designados apresentavam enquadramentos e movimentos inusitados, o que dificultava o trabalho de montadores tradicionais. Para facilitar o trabalho, Candeias passou a auxiliar e supervisionar a montagem e escrever os textos das reportagens, pois percebeu a necessidade de textos com um ritmo e tamanho diferenciado para uma melhor articulação com a montagem. Um aprendizado que deu margem para algumas experimentações e também aprimoramento técnico. Para o Carbonari eu fazia os jornais inteiros, que para mim era muito interessante. E dava certo porque as minhas reportagens marcavam muito; os meus documentários, reportagens, já contrariavam as coisas estabelecidas. Os montadores se recusavam a montar porque diziam que estava tudo errado. Daí eu pegava, montava e dava certo. O Jacques Deheinzelin viu uns documentários meus e ficou entusiasmado como eu conseguia fazer aquilo. Tudo máquina na mão. É que eu ficava fazendo experiência de montagem e não sei mais o que... Ainda sobre estes trabalhos iniciais, Candeias afirma que: Então eu já entregava montado e escrevia, E para falta de sorte deles e sorte minha, a coisa agradava muito. Então eu fazia muita experimentação de ordem estética, o problema da linguagem com o problema da montagem, problema com luz, com o movimento de câmera. Tudo isso eu experimentei em cinegrafia. No cine jornal e em documentários que ninguém queria fazer, esses documentários de terceira ou quarta categoria para prefeitura de cidade do interior. Chance de experimentar e colocar um troquinho no bolso. Ao contrário de certo mito de formação que busca enquadrar Ozualdo Candeias como um autodidata cinematográfico, desenvolvera um sólido aprendizado durante os três anos nos que cursou o Seminário de Cinema do MASP, entre 1957 e 1959 – curso que foi a base do curso de cinema da FAAP. Lá, pôde aprimorar as referências que aprendera por livros para relações de fotografia, montagem, roteiro, direção; o que não torna, entretanto, incorreto considerá-lo um experimentador nato. A breve análise aqui apresentada abre caminho para discutir alguns elementos da perspectiva documental na obra de Candeias. Particularmente, como a presença do registro documental se dá de modo variado e em meio a intervenções de caráter autoral. Seja no período de cine-jornais e primeiros documentários nos quais se percebe a presença da narração irônica que redimensiona a interpretação dos fatos, seja em obras ficcionais por meio de procedimentos específicos de trabalho com as imagens. |
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Bibliografia | ARAÚJO, I. “Ozualdo Candeias.” In: RAMOS, Fernão e MIRANDA, Luiz Felipe. (Org.). Enciclopédia do cinema brasileiro. São Paulo: Senac, 2000. p.81-82.
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