ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Anunciação: os indícios audiovisiais em Ashik Kerib |
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Autor | Fabiola Bastos Notari |
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Resumo Expandido | O cinema de Sergei Paradjanov (1924-1990) deve ser apreendido amplamente, não só nos limites da linguagem do cinema, mas criando-se diálogos: com as artes visuais, tanto pelos enquadramentos e movimentos de câmera mais estáticos quanto pela organização e encenação dos atores, como se estivessem em pose ou numa peça de teatro em palco italiano; com o teatro por causa da atuação de seus atores que mais parecem réplicas de humanos por conta do exagero; com a literatura, por conta de sua estrutura e pensamento narrativo, como a presença de títulos entre as cenas; e com as contaminações da diversidade cultural que era União Soviética, no caso, este filme foi filmado no Cáucaso, entre a Europa e a Ásia, em armênio, com roupas e instrumentos musicais característicos do Azerbaijão. Ashik Kerib, filme que tomamos como obra central nesta análise, foi filmado em 1988, com base no livro, de mesmo nome, de Mikhail Lermontov (1814-1841), seu enredo passa num período não determinado, no qual Ashik Kerib quer se casar com sua amada, porém seu pai opõe-se por este jovem trovador não possui riquezas, logo não é merecedor de sua filha. Ela promete esperá-lo durante 1000 dias e noites até que ele volte com dinheiro e impressione seu pai. Ashik Kerib inicia sua longa jornada passando por muitas dificuldades e experiências físicas e espirituais, mas com a ajuda de um cavaleiro num cavalo branco, ele retorna a sua amada no 1001º dia, podendo assim casarem.
O filme é construído a partir de capítulos, como num livro, em cada capítulo seu título já indica o que o nosso jovem trovador irá passar ou acontecer. Além desse elemento já muito conhecido da literatura, há outros elementos visuais e sonoros que anunciam, dando indícios e pistas da cena que está por ser revelado ao espectador. Como a trama da história já é conhecida e similar a outros contos ocidentais como os contos de Grimm que possuem partes moralizantes e mágicas na história, Paradjanov sente-se a vontade para experimentar e romper limites da linguagem do cinema. Com propriedade utiliza-se do pensamento da collage, fragmentos que em si contém todo o conteúdo que irá ser mostrado. Muitas são as passagens no filme. Umas das passagens é a “Caravana de Camelos” entre 00:19:48 e 00:20:28, na qual aparecem relevos numa parede de pedra com camelos esculpidos e pintados, em seguida, o título, o som, a alguns segundos da aparição dos camelos muda, uma voz humana surge, e em seguida os camelos num cortejo aparecem, como já descrito pelos relevos anteriormente. Este filme parte da estrutura do conto, história curta, construída geralmente com um único conflito e com poucas personagens, causando um efeito de excitação e emotividade do leitor. Por ser tão concisa e densa, Paradjanov consegue ir além transformando o comum no mágico, o invisível no visível, e vice-versa através de suas entrelinhas e indícios, anunciações. |
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Bibliografia | AMOUNT, Jacques. A imagem. Campinas: Papirus, 2002
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