ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Sobre corpos e imagens: Walter Lima Júnior e o documentário televisivo |
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Autor | Gilberto Alexandre Sobrinho |
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Resumo Expandido | A partir da pesquisa intitulada "Artesãos na indústria: estudo sobre os programas Globo Shell Especial e Globo Repórter (1971-1972)", desenvolvida desde 2009, tenho estudado as relações entre autoria e televisão, no domínio do moderno documentário brasileiro. A participação de cineastas na realização de trabalhos para os programas Globo Shell Especial e Globo Repórter, durante a década de 1970, aponta para um quadro singular na programação televisiva. Alguns documentários distinguem-se no fluxo da programação, pela mobilização de procedimentos formais que agenciam unidades discretas e favorecem a abordagem que privilegia categorias como “poético” ou “experimental”, no estudo da televisão brasileira. Meu interesse reside na análise das distintas vozes que emergem desses “olhares” sobre certas faces da realidade brasileira, nos trabalhos de Maurice Capovilla, Sérgio Muniz, João Batista de Andrade, Eduardo Coutinho, entre outros. Nessa comunicação, destaco os documentários dirigidos por Walter Lima Júnior. Cineasta da linha de frente cinemanovista, dirigiu cerca de 27 documentários para esses programas. Foram escolhidos para essa comunicação, os documentários “Arquitetura: transformação do espaço” (1972), “Poluição Sonora” (1973), “Poluição do Ar” (1973), “Poluição das Águas” (1974) e “Tubarão, 20 dias depois” (1974). São documentários que gravitam sobre questões da urbanidade e da modernidade brasileiros, num momento histórico marcado pela recente industrialização e modernização do país. São aspectos relevantes de sua feitura: densa pesquisa sobre os conteúdos, trabalho astucioso com a montagem, variações pouco convencionais na relação som/imagem, sobretudo em suas superfícies e texturas sonoras e um enfrentamento do diretor e sua reduzida equipe com o corpo do real, favorecido pela câmera de 16mm e o som sincronizado. Percebe-se o interesse em oferecer ao telespectador o tratamento caleidoscópico com as questões que lhe eram apresentadas, para isso, o diretor investe criativamente na abordagem e desenvolve um método próprio de lidar com os temas. Nos filmes selecionados, a dimensão discursiva vai além do referencial evocado nos títulos e coteja uma inspeção sobre os dilemas da nação, num contexto de forte censura. Assim sendo, o cineasta encontrou em alguns temas, uma forma de lidar com a “agonia” do cotidiano brasileiro, isso entendido como uma maneira de burlar a censura e fazer sua crítica à ditadura da época. Com o golpe de 1964, o governo militar acelerou o crescimento econômico e industrial e as imagens dos documentários em questão evidenciam isso. O cineasta preservava um procedimento que se repetia em seus documentários, entrevistava tanto pessoas comuns, como moradores das cidades e trabalhadores declarando seus problemas e dificuldades, quanto especialistas, explicando certas situações. O êxito de suas produções vinha também da forma de montagem escolhida. Pensar esses documentários é pensar também o som direto, uma vez que a partir dele se permitiram formas diferentes de tratamento dos temas. São conseqüências do som sincronizado a entrevista e o depoimento como elementos estilísticos. Essa nova tecnologia mudava a forma de narrativa, permitindo a mudança do foco de quem entrevista para o sujeito que fala, sendo momentos de revelação esse saber compartilhado. Dono de uma informalidade singular, nessas situações em que saia para o acontecimento e entregava-se aos sujeitos e suas falas, o diretor sempre invadia o quadro, fazendo com que seu corpo aderisse ao campo. Walter Lima Junior deixou sua marca nos programas Globo Shell Especial e Globo Repórter com a sua maneira de fazer documentários, colocando em circulação procedimentos reflexivos nos campos da imagem e do som, e também desenvolvendo um método participativo de entrevistar e dar espaço para o povo. São variações de uma relação autoral com a programação televisiva, num momento em que a sala de estar ainda era a topografia essencial do meio. |
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Bibliografia | MATTOS, C.A. Walter Lima Junior: viver cinema. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2002.
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