ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Cinema e a estetização da História: um debate epistemológico |
|
Autor | Rodrigo Almeida Ferreira |
|
Resumo Expandido | “O passado será considerado como sempre reconstituído
e organizado sobre a base de uma coerência imaginária”. Beatriz Sarlo em O Tempo Passado. Cultura da Memória e Guinada Subjetiva (2007, p. 66) O cinema sempre direcionou um olhar para o passado, estetizando os acontecimentos, substituindo os relatos históricos por imagens, esculpindo um emergente diálogo com a teoria da história e com o que os historiadores escreveram sobre seu próprio ofício. Os mesmos acontecimentos e processos foram retratados de diferentes modos, seguindo intenções até contrárias, metodologias mais ou menos subjetivas, inseridos em distintas estratégias narrativas e contextos; mitos, monumentos e lendas foram erguidos, invertidos e destruídos; os discursos alternaram dos fielmente adaptados até os livremente distorcidos. Praticamente toda história da humanidade foi projetada na tela, esboçando um passado imaginário tecido por graus de deformação no procedimento de mimese (WHITE, 1995), seja pelos floreios estéticos, pela facha de intenção, seja pela substituição de lacunas por especulações ou pela recepção dos espectadores. O cinema radicalizando os passos da literatura e da pintura, enfim, na afirmação da memória como espaço de problematização política, jogando com o que lembramos e com o que podemos esquecer (WHITE, 1995), se posicionou na intersecção entre crença e conhecimento: à medida que aumenta seu peso “na construção do público, aumenta também sua influência sobre as construções do passado” (SARLO, 2007, p. 92), cristalizando no limítrofe da incerteza espíritos / subversões de diversas épocas, instantes e lugares, multiplicando a gama, modificando perspectivas, afirmando a técnica e complexificando sua própria credibilidade enquanto manuscrito histórico. Tudo como parte de uma rede em que cada pequeno acontecimento, imaginário ou factível, vem acompanhado de seu registro audiovisual. A sétima arte se tornou um dos meios essenciais para se discutir as relações e influências mútuas entre história e estética, desde que assumiu o papel do historiador para um público massificado com referências cada vez mais obtusas, presos a uma velocidade que dificulta a assimilação de conteúdos, estruturas, trocas e mudanças. Aliás, há um apontamento “difuso e arraigado em nossa psique – os filmes históricos, mesmos quando sabemos que são representações fantasiosas ou ideológicas, afetam a maneira como vemos o passado” (ROSENSTONE, 2010, p. 18). O cinema passou a referendar não apenas distintos estatutos de sensibilidade ou “uma crise da interpretação, mas uma mudança vertiginosa das instituições que podem emitir interpretações autorizadas” (SARLO, 2005, p. 59), alinhando-se no campo teórico às inquietações epistemológicas levantadas pela Escola dos Annales e referendada em diversas vertentes por toda Nova História. A partir de metáforas e outros tropos, ambos os campos exerceram uma espécie de comentário ao discurso histórico tradicional, uma ponderação sobre a relação entre presente, passado, verdade, realidade, subjetividade, mídia e mensagem, numa espécie de confrontação metahistórica fortemente influenciada pelo regime da estética. Para melhor desenvolver essa discussão usaremos com base e ponto de partida 'A Leste de Bucareste' (Romênia, 2006), de Corneliu Porumboiu e 'Peixe Grande' (EUA, 2003), de Tim Burton, duas produções que problematizam o caráter da forma como contamos ou podemos contar histórias. Amparando tais obras, no campo das releituras históricas, usaremos entre outros os seguintes filmes: Maria Antonieta (EUA / França, 2006), de Sofia Coppola; Bastardos Inglórios (EUA / Alemanha, 2009), de Quentin Tarantino; e a trilogia Moloch (1999), Taurus (2001) e O Sol (2005), do russo Aleksandr Sokurov. |
|
Bibliografia | BLOCH, Marc. Apologia da História. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
|