ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | O corpo e as políticas do cotidiano nos filmes de Fernando Belens |
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Autor | Marise Berta de Souza |
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Resumo Expandido | Entender o cinema como uma linguagem complexa com laços intrincados entre a poética do criador cinematográfico e os seus processos de produção, torna possível traçar princípios que admitem uma marca pessoal na realização cinematográfica que permite que se coloque a discussão para além das suas tradicionais dicotomias entre arte e indústria, localismo e universalismo, e possa se extrair do cinema sua essência enquanto linguagem poética, capaz de conjugar características de expressividade e comunicabilidade.
Essa premissa se faz necessária na abordagem pretendida por se tratar de trazer à cena um cineasta que opera na faixa da poesia de invenção, estabelecido em uma região geográfica marcada pela assimetria nas condições de produção. A opção pela análise das obras de Belens emerge tanto da busca, do enfrentamento às questões da margem, da demarcação de fronteiras e de territórios, como da constatação da diversidade e singularidade de sua conduta narrativa, evidenciadas na manipulação e inter-relação de seus conjuntos temáticos. Também completa o quadro dessa escolha a condição de centralidade que Fernando Belens ocupa no panorama do cinema baiano ao longo de quatro décadas em que transitou do engajamento convocado pela sua iniciação em super 8 à exploração e conhecimento do específico fílmico - ao exercitar o curtametragismo de ficção e documental - até chegar à experiência do longa-metragem, em 2009, ao realizar Pau Brasil, ocasião em que demonstra um posicionamento criativo e uma maturidade expressiva claramente baseados em investimentos narrativos marcados pela investigação e traquejo no manuseio da linguagem cinematográfica. Para abordar os temas, as recorrências e o processo criativo desse cineasta, escolho, então, me posicionar a partir do ponto de vista do próprio artista, que afirma em diversos momentos de sua carreira que opera na tensão entre o corpo e as micropolíticas - uma atitude focada em preocupações contemporâneas específicas, como o gênero, a impunidade, a infância, a ecologia, a família, a exclusão, enfim tudo aquilo que espelha e reflete a sua atitude sociopolítica frente à vida. Este posicionamento me direciona no sentido de possibilitar a ampliação da minha compreensão sobre os seus filmes na tentativa de por em relevo a sua poética e traçar um percurso do processo criativo da mesma. Para isso, serão percorridos alguns caminhos de especulação teórica e determinados autores serão visitados. Inicialmente, recorrerei a alguns formuladores contemporâneos que descentraram o foco, quebraram o eixo e entenderam que há uma política do cotidiano, dando uma dimensão política a vários campos até então abafados ou considerados neutros, com repercussão no campo da estética, a exemplo de Anthony Giddens e Félix Guattari. Na tentativa de contornar, em última instância, a potência criativa do cineasta, traduzida nas suas formas de sentir e significar o mundo, prosseguirei à investigação problematizando determinadas noções implicadas no processo de construção fílmica de Fernando Belens, a exemplo dos conceitos de mise-en-scène, estilo e autoria, por meio dos quais o espectador adentra na diegese de seus filmes, sendo atingido por sua expressividade e interagindo com seus sentidos políticos, artísticos e culturais. |
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Bibliografia | AUMONT, Jacques.O cinema e a encenação. Lisboa: Edições Texto & Grafia, 2006.
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