ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Torquato Neto e suas travessuras em superoito |
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Autor | Edwar de Alencar Castelo Branco |
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Resumo Expandido | As versões que, de um modo geral, falam dos diversos projetos artísticos que circularam no Brasil, nas décadas de 1960 e 1970, tendem a reduzi-los ao singular. Nos discursos que narram a história do período, as múltiplas e diferentes iniciativas são diluídas com o propósito de compor um projeto único e compacto dentro do qual só seriam possíveis duas vertentes: um tempo de grande mobilização política, “anos rebeldes” marcados por grande criatividade e produtividade; ou um momento romântico, voluntarista e irresponsável que, entre outros trágicos resultados obtidos, precipitaria o golpe militar de 1964 e facilitaria a instituição do AI-5, por exemplo. Neste trabalho, proponho que o estudo dos filmes experimentais de Torquato Neto permite, antes de tudo, compreender o arbítrio que sugere haverem “idéias com forças atrativas que são capazes de trazer para sua órbita filmes, encenações e instalações, como se estes não tivessem sido frutos de discussões e caminhos próprios”. Relembremos que historicamente há três formas clássicas de representação artística: a época clássica é presidida por uma concepção segundo a qual existe uma identidade natural, um equilíbrio entre a forma e o conteúdo. Nesta concepção, “que dura do renascimento até fins do século XIX, a arte deveria ser uma ilusão perfeita do real”, isto é, nela há uma estética do equilíbrio onde os conceitos e as idéias entram com facilidade e com conforto na representação simbólica ou de forma; na modernidade esta representação realista é abalada e rapidamente colocada em xeque pela representação alegórica, a qual emerge do fracasso da arte simbólica em captar um mundo cada vez mais marcado por desencaixes e abstrações. Foi Jameson um dos primeiros a perceber que a modernidade ocupou todos os espaços possíveis de criação, deixando como único recurso aos seus sucessores o pastiche, isto é, a recriação artística a partir da ressignificação das obras existentes, o que coloca no centro da arte pós-moderna toda a tradição estética modernista. Se não há mais espaço para criar, posto que este foi completamente ocupado pelos estilos bastante singulares dos modernos, “só resta imitar os estilos mortos, falar através das máscaras e com as vozes dos estilos do museu imaginário”. É intenção deste trabalho refletir sobre o cinema em Torquato Neto a partir deste molde. Em outra ocasião já mostrei como Torquato foi um mestre no recurso da colagem/bricolagem, o que poderia indicar o sentido da arte torquateana dentro do modelo exposto. Mas há ainda outras questões implicadas naquela arte, como por exemplo a maneira como Torquato lidava com as idéias de real e de realidade e, bem como, a própria insistência torquateana em “destruir a linguagem e explodir com ela”. Adão e Eva do Paraíso ao Consumo – que ao lado de O terror da vermelha tomo como signo do cinema torquateano – é um filme sem palavras sem ser, necessariamente, um filme mudo. Ele sintetiza, segundo o meu ponto de vista, a contra-linguagem torquateana. E contra-linguagem é um termo que está sendo utilizado aqui para definir a relação de Torquato Neto com a Língua Nacional, isto é, o seu esforço para capturá-la em um “devir menor”. Esforço que se expressou na palavra escrita, como já ficou demonstrado, mas também na breve incursão torquateana pela arte cinematográfica. É isto que este texto propõe analisar. |
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Bibliografia | CASTELO BRANCO, E. de A. História, cinema e outras imagens juvenis. Teresina: EdUFPI, 2009.
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