ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Five de Abbas Kiarostami – passagens entre a imagem fixa e a imagem |
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Autor | Antonio Pacca Fatorelli |
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Resumo Expandido | Titulo: 'Five' de Abbas Kiarostami – passagens entre a imagem fixa e a imagem movimento
Pesquisador: Antonio Fatorelli (ECO-UFRJ) 1. Introdução e justificativa A história recente dos meios visuais e audiovisuais é a de uma trama de assimilações, de contágios e de confrontações recíprocas entre as diferentes formas, em flagrante desacordo com as pretensões modernistas de purismo e de autonomia. Essas tramas mais ou menos complexas sinalizam, no caso particular das relações entre as diferentes formas de expressão visual, a existência de negociações e de empréstimos entre, por exemplo – e essa relação nos interessa em particular –, a fotografia e o cinema. As imagens estáticas, a fotografia entre elas, proporcionam um tempo de observação prolongado, oferecendo ao sujeito da percepção a oportunidade de empreender um percurso que pode variar entre a observação desinteressada e a mobilização imersiva, passando do olhar fortuito à atenção prolongada. O que particulariza o tempo de observação das imagens estáticas é essa oportunidade de controle por parte do observador, que pode contraí-lo ou distendê-lo, dependendo da sua intencionalidade. Uma tal liberdade está interdita ao observador das imagens em movimento, irremediavelmente aprisionado ao fluxo regular e irreversível da projeção. Esse modo de observação da fotografia mobilizou vivamente as reflexões de Roland Barthes, que se mostrava francamente seduzido pelo modo de se dar a ver das fotografias, um modo distendido no tempo, que oferece ao observador a oportunidade de projetar na imagem as suas demandas internas. Mas o que acontece nas situações em que as convenções associadas aos meios não prevalecem? Quando o filme se torna lento a ponto de se confundir com uma sucessão de fotografias estáticas, ou quando, após um movimento circular sobre o quarto, a câmera se detém demoradamente em uma antiga fotografia que repousa sobre a cômoda, como vemos em Blade Runner, de Ridley Scott, ou ainda quando um longo plano sequência emoldura um objeto, um vaso ou um arranjo de flores, como nos apresenta Ozu; situações em que a imagem cinematográfica se aproxima da estase normalmente atribuída à imagem fotográfica? Ou quando as fotografias são submetidas ao tratamento sequencial ou serial, editadas de modo a comportar um encadeamento e uma duração, de maneira muito semelhante aos fotogramas do cinema, entrevendo uma narrativa e uma tensão temporal em direção ao futuro? Fotógrafos e cineastas não pararam de produzir, desde os primórdios da fotografia e do cinema, essas situações paradoxais, pelo ao menos do ponto de vista da definição convencional. 2. Hipótese Entre as definições normativas da imagem instantânea e do cinema hegemônico, transitam uma série de formas híbridas que não se deixam classificar facilmente. Este lugar entre a imagem fixa e a imagem em movimento compreende as expansões e as contrações do instantâneo e, igualmente, as temporalidades complexas resultantes dos procedimentos de montagem no interior dos planos e entre os planos das imagens em movimento. Trabalhos relevantes foram produzidos sob o signo das influências recíprocas entre as imagens fixas e as imagens em movimento. Fotógrafos – Paul Strand, Man Ray, William Klein, Robert Frank, entre outros – e cineastas, desde os Lumière – Eisenstein, Dziga Vertov, Walter Ruttman, e René Clair, entre eles – realizaram fotografias e filmes em que são evidentes as influencias recíprocas entre os meios, uma lógica de assimilações e de contágios entre as formas imagéticas, que viria a ser posteriormente ampliada pelo vídeo, em especial pela vídeo-arte, e pelos formatos emergentes das imagens digitais. 3. Objetivo O propósito desta apresentação é o de analisar como o diretor iraniano Abbas Kiarostami, em seu filme ‘Five’, mobilizou o repertório da fotográfica instantânea na concepção desse filme que podemos apontar, na sua filmografia, como o mais fotográfico. |
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Bibliografia | BARTHES, Roland. Ao sair do cinema in O rumor da língua. Porto: Edições 70, 1987.
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