ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | A macroestrutura da trilha musical no exemplo de Maria Antonieta |
|
Autor | Claudiney Rodrigues Carrasco |
|
Resumo Expandido | O conceito de macroestrutura da trilha musical é um dos menos estudados da teoria de música de cinema. Trata-se de um problema relevante, pois é a organização macroestrutural que permite que a trilha musical possua unidade interna.
Até hoje, os fatores de organização macroestrutural mais pesquisados são o leitmotiv, a uniformidade tímbrica e a de gêneros e estilos. Contudo, a unidade da trilha musical pode ser obtida por meio de outros recursos. É difícil estabelecer de antemão um conjunto de procedimentos menos usuais que permitam um planejamento macroestrutural da trilha musical. O atual estágio em que se encontram as pesquisas de som para o audiovisual sugerem que o que é mais eficiente no momento é observar caso a caso, identificando aqueles filmes que apresentam projetos de trilhas musicais pouco usuais, para que possam, posteriormente, ser organizados nos sentido de formar um repertório de procedimentos técnicos que permitam uma abordagem mais sistemática do problema. O filme Maria Antonieta (2006), de Sofia Coppola, é um desses casos. É um filme que levantou uma certa polêmica, quando de seu lançamento, por se tratar de um filme de época, mas que não recebeu o tratamento usualmente dado a esse tipo de filme. O passado e a contemporaneidade mesclam-se curiosamente no filme. Um dos fatores em que isso se torna mais perceptível é nab sua trilha musical Organizada por Brian Reitzell, um experiente music supervisor, a trilha é formada por músicas pré-existentes de gêneros diversos. Todavia, há um projeto muito claro por detrás de sua organização, algo que pode ser entendido como um pensamento macroestrutural, que faz com que a trilha não se torne apenas um apanhado de músicas ao acaso. Esses diversos gêneros podem ser agrupados em três grandes grupos: músicas extraídas do repertório de rock pós-punk dos anos 80, peças do repertório do filme, da época em que se passa a história, ou épocas próximas a ela e, finalmente, músicas que os produtores do filme indicam como “new romantic”, ou seja, músicas que se aproximam do repertório erudito romântico, tonal, mas que foram compostas recentemente, e que possuem um caráter que oscila entre o erudito e o new age. Reitzell organizou o repertório de cada um desses três grupos de forma a identificar diferentes facetas da personagem-título, pontuando cada uma delas com um tipo de música específica. O Rock pós-punk identifica a o aspecto “mulher jovem” da personagem, a adolescente que gostava de festas e do luxo da corte, representado no filme pelas roupas e pelos doces. As músicas do repertório erudito pontuam as sequências em que a personagem é apresentada como a rainha da França, momentos em que a jovem é engolida pelo sistema e pela rigidez dos protocolos do poder. Por fim, as peças do gênero new romantic são usadas para pontuar outro aspecto da personagem: a mulher infeliz, vítima de um casamento fracassado, frustrada por não conseguir ter um filho. Tendo como ponto de partida esse princípio organizacional, a música torna-se um poderoso recurso na composição da narrativa, bem como da arquitetura dramática do filme. Em cada momento, o espectador sabe exatamente qual aspecto da personagem está sendo apresentado. |
|
Bibliografia | CARRASCO, Claudiney. Trilha Musical: música e articulação fílmica. Disertação de mestrado. São Paulo: ECA/USP, 1993.
|