ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Da sinfonia urbana à revolução do falado: novas perspectivas históricas |
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Autor | Fernanda Aguiar Carneiro Martins |
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Resumo Expandido | O período 1926-1934 consiste num momento-chave da história do cinema. As circunstâncias até então inéditas exigem soluções inovadoras em termos técnicos, econômicos e estéticos para o cinema, o que confere de um certo modo um viés experimental e de pesquisa às práticas exercidas face ao advento do som. Se a transição do cinema silencioso ao falado foi sempre considerada um período de regressão estética, o estudo de Martin Barnier (2002) contraria tal idéia, propondo um enfoque diferente dessa transição. Ao analisar fatos, documentos e filmes, o autor demonstra que o advento do som compreende uma operação sabiamente preparada pelos produtores, os criadores encontrando, por sua vez, um campo vasto e apropriado para experimentações e, assim sendo, para a descoberta de novas possibilidades estéticas.
Possuindo como objeto de estudo a filmografia do cineasta Alberto Cavalcanti, o trabalho de investigação a respeito de tal período se revela ainda mais curioso. Se a produção cavalcantiana tem como marco inicial a sinfonia urbana "Nada como o passar das horas"("Rien que les heures",1926), criado em meio aos ideais vanguardistas mais ambiciosos, na época do cinema silencioso, a música continua a exercer um papel importante em sua obra. Eis o caso das realizações "A Pequena Lilie"("La P´tite Lilie", 1927), um curta-metragem de circunstância, também pertencente à época do cinema silencioso, inspirado na canção popular francesa, que dá origem a seu título, e "Chapeuzinho Vermelho" ("Le Petit Chaperon Rouge",1929), que conhecerá uma versão sonorizada, datando dessa época o conhecimento que o cineasta trava com músicos de renome como Maurice Jaubert e Darius Milhaud. O presente estudo adquire maior interesse à medida que o estudioso é levado a se debruçar sobre realizações que nem sempre renderam uma boa reputação ao cineasta. Em meio à chamada revolução do falado, trata-se de levar em consideração a sua atividade nos estúdios Paramount, situados em Joinville, subúrbio parisiense. Neles, Cavalcanti volta-se para uma produção eminentemente comercial, versões sonorizadas em diferentes idiomas de um mesmo filme, efetuadas a fim de garantir acesso a públicos de várias nacionalidades. Cavalcanti é muito criticado, contudo tal experiência lhe permite se familiarizar com a nova técnica. Data dessa época, entre outros, a realização do primeiro filme falado em língua portuguesa "A Canção do Berço" (1930). Nesse sentido, a historiografia aqui em jogo não se propõe a estudar unicamente obras-primas, obras excepcionais pairando acima da corrente de que fazem parte. No caso da filmografia de Alberto Cavalcanti, sobretudo, cabe abrir-se a um grupo heterogêneo de realizações, que o põe em meio entre outros à vanguarda francesa do início do século XX, aos primeiros balbucios na época da chegada do som, à dita revolução do falado, à produção documentária e ficcional britânica, à emergência de um cinema nacional brasileiro, à cultura germânica ao lado de Bertolt Brecht, além de Hanns Eisler. Essa comunicação se propõe a discutir certas questões relacionadas à própria história do cinema e sua historiografia. Busca apresentar os resultados parciais do projeto de pesquisa "O Som no Cinema segundo Alberto Cavalcanti" (CNPq), projeto esse que dá continuidade ao estudo desenvolvido na tese de doutorado, intitulada "O Diálogo com o Passado: o Amálgama Complexo entre En rade (1927) e O Canto do Mar (1953) de Alberto Cavalcanti. Cabe fazer jus à obra de um cineasta - merecedor de (re)conhecimento. O objetivo é muito contribuir e, assim sendo, fazer avançar a pesquisa histórica, sem escamotear a necessidade da prática de análise fílmica e os horizontes teóricos para os quais tal prática aponta. |
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Bibliografia |
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