ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Restauração de som no cinema brasileiro: panorama |
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Autor | Joice Scavone Costa |
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Resumo Expandido | Na restauração de um filme, estaremos ligados à restauração paralela da imagem e do som. Na cópia de exibição, é habitual que o som e a imagem ocupem o mesmo espaço da película e tenham o mesmo período de tempo. Porém, na projeção de um filme eles ocupam espaços diferentes. E é por isso, pelas qualidades diferentes que envolvem cada elemento da percepção fílmica (como efeito sensorial diverso), que som e imagem serão separados para que tratemos da pesquisa de documentos e materiais direcionados especificamente ao áudio.
A restauração de som significa a união de duas atividades essenciais ao cinema e que, no entanto, receberam apenas recente atenção da academia. Com material bibliográfico reduzido no Brasil e no mundo, trataremos aqui do estudo da preservação e dos paradigmas tecnológicos, estéticos e estilísticos presentes na concepção sonora de alguns títulos brasileiros restaurados, assim como na recepção auditiva deles pelo espectador. Quando falamos de restauração de som no cinema, levamos em conta muito mais do que o específico sonoro. O som no cinema supõe um agenciamento entre vários eixos: silêncio, ruído, ambiente, voz (som direto, dublagem) e música. Acompanhados de uma percepção visual (mesmo quando a tela fica escura), resultam em combinações entre sons e imagens como a redundância, o contraste, o sincronismo, o dessincronismo ou a dessincronização. Além da concepção do som cinematográfico, precisaremos chamar aqui a atenção para as partes do processo de feitura de que depende essa analogia auditiva, aos materiais formadores de todo o processo de criação (sobras ou, no caso do som, materiais de pré-mixagem), materiais esses que também tiveram uma evolução técnica assim como os aparelhos de gravação (captação) e reprodução. Partindo de equipamentos sonoros separados da imagem, como cilindros, discos e fitas de seus diversos tipos, e de documentos em papel para a orientação do trabalho (mapas sonoros, partituras), equipamentos e suportes de gravação e, na pós-produção, a mixagem e modulação, a transferência de um suporte físico para outro, deixam sobras físicas, que quando bem preservadas tornam possível um melhor resultado na restauração. Da mesma forma, precisamos nos ater aos equipamentos que, na exibição, são necessários à amplificação, restituição por alto-falantes distribuídos pela sala de exibição e a escuta em volume espacial e o estudo desse contexto. Mesmo que o filme nunca tenha sido uma "arte silenciosa" (sabemos que desde as suas origens, a projeção era acompanhada por música, efeitos sonoros, vozes de atores e cantores), a maioria das restaurações atribui menos importância aos recursos e conhecimentos para a recuperação do som de um filme do que de sua imagem. Procuraremos perceber e explicitar de que forma as possibilidades tecnológicas e a ética da restauração se interligam e/ou se contradizem, e os conflitos que se operam no interior de cada experiência. A prática da restauração de filmes no Brasil é bastante recente e a teoria emprestada da arquitetura e de outras formas artísticas não fundamentou a maioria das ações de restauro. A história da restauração cinematográfica no Brasil se deu através da mobilização de técnicos e pesquisadores que aprenderam com seus erros e acertos. Cada caso requer uma atenção particular, pois há muitas variáveis na restauração do som de um filme e não podemos nos ater a uma única diretriz de trabalho. O nosso propósito é contrapor a teoria e a prática para sublinhar a importância dos dois aspectos de uma restauração. Desta forma, acredito que, no que diz respeito à restauração de som do cinema no Brasil, estamos em um momento em que a conscientização e o estudo das restaurações realizadas nos ajudam a observar os podem levar a um melhor preparo de técnicos e restauradores. |
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Bibliografia | BILLEAUD, Richard & FONTAINE, Jean-Marc. La Restauration de Bandes Sonores de Films. Revue Coré, n° 14. Paris, 2004.
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