ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Por uma poética do ensaio fílmico: algumas perspectivas teóricas |
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Autor | Gabriela Machado Ramos de Almeida |
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Resumo Expandido | O ensaio, como gênero literário, tem sido objeto de reflexão minuciosa desde as investidas inaugurais de Michel de Montaigne e Francis Bacon no século XVI. Ainda que nenhum dos dois autores tenha se proposto a fundar um gênero, eles foram responsáveis por conferir ao ensaio algumas das suas mais destacadas características – que se tornariam verdadeiros princípios -, como a liberdade formal, a reflexividade e, principalmente, a ausência de prescrições e regras.
Em O Ensaio como Forma, Theodor Adorno considera o ensaio a única forma de pensamento que levanta dúvidas quanto ao que o autor chama de “direito incondicional do método”, e diz ainda que este tipo de produção literária é “radical em seu não-radicalismo, ao abster-se de qualquer redução a um princípio e ao acentuar, em seu caráter fragmentário, o parcial diante do total” (2008, p. 25). No cinema, alguns realizadores têm produzido obras caracterizadas por estes mesmos princípios, com destaque para Alain Resnais, com seu emblemático "Noite e Neblina" (Nuit et brouillard, 1955); Chris Marker, com filmes como "La Jetée" (1962), "Le Joli mai" (1962) e "Sans Soleil" (1982); Jonas Mekas ("Lost, Lost, Lost", 1976); Agnès Varda, com "Os Catadores e eu" ("Les Glaneurs et la Glaneuse", 2000) e Jean Luc-Godard, com a sequência de filmes-ensaio produzidos em um intervalo de três anos na década de 1970, "Ici et ailleurs" (1974), "Numéro deux" (1975) e "Comment ça va" (1976), e culminando com a série de oito filmes produzidos para a televisão "Histoire(s) du Cinéma" (1988-1998). No Brasil, verifica-se um interesse crescente em relação aos ensaios audiovisuais na última década. No campo da realização, este interesse se manifesta sobretudo por meio da produção de jovens cineastas ligados ao documentário e ao cinema experimental, como Cao Guimarães, Pablo Lobato, Marília Rocha, Tiago Mata Machado, Sérgio Borges e Guto Parente, que vêm realizando obras ficcionais e não-ficcionais fortemente “contaminadas” pelas artes visuais e pela busca por tencionar ao máximo fronteiras de gêneros fílmicos e de suportes de produção audiovisual, por afirmar um cinema que não se pretende puro, como se a reflexão sobre o estado-da-arte do cinema e do vídeo fosse indispensável e devesse ser promovida pelas próprias obras - e exatamente neste questionamento se localizaria o seu caráter ensaístico. Ao longo dos seus pouco mais de 50 anos de história, o ensaio audiovisual tem sido associado às vanguardas artísticas e à renovação e ousadia no manejo da linguagem cinematográfica. Por seu caráter de “pensamento ao vivo”, parece se afirmar como um tipo de produção artística que trava diálogo intenso e direto com a contemporaneidade. A explicação pode residir no amplo espectro de possibilidades comunicacionais proporcionadas pelo vídeo, meio através do qual se dão grande parte das nossas experiências estéticas e comunicacionais cotidianas e que tem sido olhado recentemente mais em relação às suas aberturas e fissuras do que na procura por suas possíveis especificidades. Este artigo se propõe a formular alguns apontamentos sobre as abordagens teóricas do ensaio audiovisual. Parte-se aqui de um olhar que busca pensar o ensaio fílmico por sua natureza audiovisual, pela forma como o manejo do material fílmico e dos recursos específicos da linguagem cinematográfica são utilizados em filmes de modo a lhes conferir o caráter ensaístico. Os recortes teóricos privilegiados neste trabalho são advindos das áreas da Estética e das Estéticas da Comunicação e a abordagem se dará à luz das contribuições de autores como Philippe Dubois, Noel Burch, Bill Nichols, Arlindo Machado, Umberto Eco e César Guimarães. |
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Bibliografia | ADORNO, Theodor. O Ensaio como Forma. São Paulo: Editora 34, 2008.
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