ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | L.B.J.: o imagético subversivo no documentário político cubano |
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Autor | Marcelo Vieira Prioste |
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Resumo Expandido | Em 1968 o cineasta cubano Santiago Álvarez dirigiu (1919-1998). o L.B.J. (Cuba, 18 min.) uma ácida crítica ao presidente estado-unidense Lyndon Johnson e sua possível ligação com os assassinatos de Martin Luther King, John e Robert Kennedy.
L.B.J. pode ser considerado exemplo típico na cinematografia de Álvarez, que se desenvolveu fazendo o uso de imagens fotográficas ou imagens de arquivo para sua eventual reinterpretação no interior do enredo, produzindo diferentes formas de um "cinema-discurso". São experiências narrativas semelhantes ao que desde os anos 1950 vinham ocorrendo no documentarismo europeu, como na produção do francês Chris Marker, da belga Agnès Varda e do húngaro Péter Forgács. Inclusive, tanto Marker como Varda estiveram em Cuba produzindo e compartilhando experiências, fato que deixou marcas na revolucionária ilha caribenha. Representante do nuevo cine latinoamericano, Álvarez esteve envolvido profundamente com a revolução cubana, sendo fundador e diretor por mais de 20 anos do Noticiero ICAIC Latinoamericano, o cine-jornal oficial da ilha. O ICAIC, Instituto Cubano del Arte e Industria Cinematográficos, primeiro órgão cultural criado pela revolução (1959), foi o cenário onde se discutiu muito sobre quais seriam as políticas culturais a serem implantadas no país. E um dos poucos aspectos consensuais nestes debates era o papel do cinema no processo da revolução(VILLAÇA, 2010). Álvarez, criador do que ele mesmo intitulou de “cinema-urgente”, seguiu à risca os preceitos deste cinema revolucionário, principalmente, pela sua forma narrativa. Em L.B.J. é evidente o discurso incisivo muitas vezes carregado de ironia e sarcasmo, porém evitando a chamada “voz de deus” (NICHOLS, 1991) e, portanto, propondo um modo expositivo diferente da tradição desenvolvida na Inglaterra dos anos 1930 por John Grierson. L.B.J. apresenta-se como uma espécie de reflexão feita com a manipulação e consequente reacomodação de sentido para imagens de arquivo, ironicamente muitas delas extraídas da revista estado-unidense Life. Desta forma, L.B.J. se alimentou da realidade sem adotar uma perspectiva mimetista, mas pelo viés da representação. Ou seja, o filme assumiu o papel de um gerador de discurso sobre o mundo histórico, ou como o diretor mesmo afirmou “[...] para mim a realidade é uma ficção constante. Gosto de ver filmar e elaborar, a mim me interessa registrar e participar dessa realidade. Eu não gosto que alguém me conte a história, gosto de participar dela” (ÁLVAREZ apud LABAKI, 1994, p.71). O resultado cinematográfico de L.B.J. pode também ser denominado como uma espécie de “cinema materialista”. Expressão que já havia sido utilizada em relação ao cinema de J. L. Godard, principalmente na sua fase com o grupo Dziga Vertov(68-70)(DUBOIS, 2004). Outros autores relacionam L.B.J., assim como outros filmes do período sessentista de diretor, ao cinema de Dziga Vertov e Serguei Eisenstein ou, como diz Michael Chanan: “[...]) Álvarez amalgamou uma cleptomania criativa com a habilidade de um bricoleur para reinventar a montagem soviética em um cenário caribenho”(CHANAN, 1996, p. 430). Porém, em mais de uma entrevista o próprio afirma só ter tomado conhecimento destes cineastas no início dos anos 1970(LABAKI, 1994). Poderia então sua obra ter sofrido outras influências além do cinema moderno europeu, tão presente na ilha por meio dos cineastas e técnicos que lá estiveram? Ou até mesmo sido influenciado pelo expoente design gráfico cubano, mundialmente reconhecido. Criando-se então uma espécie de “cinema-cartaz”? No sentido deste ser um material gráfico de ampla penetração, síntese imagética e altamente persuasivo (HOLLIS, 2001). Um meio de comunicação que esteve presente intensamente nas mais diferentes manifestações de cunho político e social ao longo de todo o século XX. |
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Bibliografia | CHANAN, Michael. “New cinemas in latin america”. In: NOWELL-SMITH, Geoffrey. The oxford history of world cinema. Nova York: Oxford University press, 1996. p.427-435.
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