ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | O som na Vera Cruz |
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Autor | JOÃO MIGUEL VALENCISE |
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Resumo Expandido | Este ensaio não tem o objetivo de fazer uma genealogia da história da Vera Cruz com todas as suas vicissitudes e o seu longo anedotário e sim o de examinar a importância dessa experiência, o alto nível de seus técnicos, a construção dos estúdios e a aquisição dos equipamentos para o aprendizado no manuseio do som no cinema nacional. A questão do som na Vera Cruz, as instalações, os procedimentos de captação, procedimentos de laboratório, os técnicos e o aprendizado são os pontos centrais do presente ensaio.
O final da década de quarenta chegou à capital paulista marcado por grandes transformações e determinou o inicio de um movimento que pretendia dotar São Paulo das condições necessárias para o florescimento da cultura e das artes. Nesse contexto que tinha como premissa para parte da alta sociedade paulistana o rompimento com o passado e a necessidade de reconhecimento internacional também surge a Companhia Cinematográfica Vera Cruz. A Vera Cruz foi criada em novembro de 1949 por Franco Zampari e Francisco Matarazzo Sobrinho e chegou a ser o terceiro maior estúdio cinematográfico do mundo. O cinema nacional desse período ia de mal a pior: os intelectuais, a imprensa , a elite, ninguém queria saber de sua produção. Era simplesmente ignorado e quando ocorriam algumas notas em algum periódico sobre alguma fita brasileira, normalmente o ataque era com relação à qualidade técnica que ainda era muito precária. O sentimento mais comum era o de que o Brasil daquele período necessitava da implementação de um grande estúdio, de bons laboratórios, de equipamentos de última geração e principalmente, técnicos experientes para mostrar a que vinha. Essa parecia ser, à primeira vista, a vocação da Vera Cruz. A tão esperada industria cinematográfica parecia ter desembarcado no território nacional. Logo de início, a contratação do experiente Alberto Cavalcanti para ocupar o cargo de Produtor Geral já parecia ser um anuncio do tamanho do espaço que a Companhia pretendia ocupar no cenário das grandes produtoras. Foi através de Alberto Cavalcanti que vieram para o Brasil o fotógrafo Henry Edward Fowle (Chick Fowle), o editor Oswald Hafenricher, o engenheiro de som dinamarquês Eric Rassmussen o operador de microfones Michael Stoll e os documentaristas ingleses Rex Endsleigh e John Waterhouse. Alberto Cavalcanti tem importância fundamental neste nosso trabalho já que o seu envolvimento pessoal com a questão do som no cinema é forte indício da importância que adquiriu este aspecto da produção nas fitas da Vera Cruz. Já em 1923 Cavalcanti começou a se interessar pelas relações da música com o cinema ao lado do “grupo dos cinco”: Erik Satie, Darius Milhaud, Poulenc, Auric e Taillefer. Em 1929 ele já havia realizado seu primeiro filme sonoro, “Le Petit Chaperon Rouge” e pouco depois, já estava sendo convidado por Grierson para transmitir à equipe inglesa da G.P.O. (General Post-Office Film Unit) a sua experiência na utilização do aparelhamento de som. Com sua experiência de arquiteto, Cavalcanti orientou a construção do estúdio além de ter consultado o engenheiro por ele escolhido para indicar qual o sistema de som que a Companhia deveria adotar e há vários relatos de que ele tenha conversado diretamente com os maestros e compositores sobre a trilha mais adequada para as produções que realizou. A Cia Cinematográfica Vera Cruz encerrou suas atividades em 1954 e deixou para a história da cinematografia nacional um legado de dezoito (18) longas metragens de ficção, quatro (4) documentários e uma geração de técnicos. Dentre eles o fotógrafo Geraldo Gabriel, o montador Mauro Alice e o técnico de som Juarez Dagoberto. |
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Bibliografia | AUGUSTO, Sérgio. Este Mundo é um Pandeiro – A Chanchada de Getúlio a JK. São Paulo. Companhia das Letras. 1989.
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