ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Montagem, interação, performatividade: entre o cinema e a hipermídia |
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Autor | marina pantoja boechat |
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Resumo Expandido | Como apontam Bellour e Parente, houve uma morte do cinema com a sua diáspora na programação televisiva: o cinema é como que exilado de seu dispositivo de referência, ou seja, de um conjunto técnico e arquitetônico – basicamente o projetor e a sala de exibição tradicionais – que configura um contexto de exibição. Embora esse dispositivo não represente o único campo de desenvolvimento de uma linguagem a ser considerada cinematográfica, reconhecemos que ele se torna hegemônico a partir de certo período histórico e que, como tal, acaba por auxiliar o estabelecimento desta linguagem e ao mesmo tempo de um mercado para o cinema produzido neste formato geral.
Pois bem, a tal diáspora do cinema na televisão coloca a obra num contexto radicalmente diferente de exibição, mas também é o primeiro de vários exílios do cinema em relação ao seu ambiente tradicional, em claro declínio, mas ainda em muitos aspectos hegemônico. Esses exílios do cinema para outros ambientes de fato pouco têm a ver com uma idéia de isolamento, mas, ao contrário, com uma idéia de mistura e fragmentação da experiência, que ocorrem na desestabilização dos ambientes de exibição e do próprio dispositivo de geração de imagens. Está claro que a migração para o digital, tanto nas esferas de produção quanto nas de recepção (cada vez mais misturadas), amplia esse trânsito. No contexto atual, de fato o computador vai se tornando tão abrangente que tende a engolir a própria televisão, de forma que o audiovisual, representado em seu estado mais nobre (ou cristalizado) no cinema, vai ganhando múltiplas facetas na pluralidade de aparelhos, programas e interfaces digitais. Numa corrente inversa, num mundo organizado por sistemas de informação onde tudo é convertido em arquivo para tornar-se visível, o contato com esses arquivos é organizado por programas e suas interfaces em um fluxo interativo, uma performática específica de cada ambiente informacional. Se o conteúdo se coloca como um sistema em aberto que precisa ser percorrido e movimentado para ser acessado, então num certo sentido todo o conteúdo do mundo faz cinema e tudo se move. Como diria Flores, “vivemos num mundo em plena dilatação cinemática”. As imagens se dão em fluxo, na relação com dispositivos cuja estrutura de hardware é cada vez mais contingente, no sentido de serem arranjadas de acordo com contextos discursivos situacionais. Desde a televisão, o cinema é puxado para fora da forma cinema, mas por outro lado todo o arquivo da nossa cultura é aos poucos puxado, engolido para um efeito cinema nas formas digitais interativas. Em suma, o cinema se expande em mídia interativa e vice-versa, já que toda expansão não deixa de ser uma incorporação. Nossa proposta é trazer a tona esses fenômenos por meio de um breve paralelo entre o cinema e as formas interativas digitais, levando em conta principalmente as questões da montagem e do fluxo interativo/narrativo. Apontamos primeiramente para a idéia de que há, pela via do percurso da interação, uma reintrodução da imagem cinema nas novas mídias que não se esgota, está claro, na reprodução de obras de cinema tradicional, sendo o efeito cinema constitutivo das formas interativas digitais. Ao mesmo tempo, trabalhamos com a idéia de que essa mesma interação trabalha dentro de uma performatividade que produz uma ressignificação da idéia de montagem cinematográfica neste novo contexto situacional. |
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Bibliografia | D'ANGELO, Martha; PARENTE, André; VINHOSA, Luciano (org.). Poiésis n.12, Niterói, Programa de pós-graduação em Ciência da Arte, Instituto de Arte e Comunicação Social, UFF, 2008.
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