ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | A literatura no cinema de Joaquim Pedro de Andrade |
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Autor | Elizabeth Maria Mendonça Real |
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Resumo Expandido | A forte ligação de Joaquim Pedro de Andrade com a literatura transparece em seus filmes, desde o primeiro longa-metragem ficcional – O padre e a moça (1965) –, inspirado no poema O padre, a moça, de Carlos Drummond de Andrade, até o último – O homem do pau brasil (1981), baseado na vida e na obra de Oswald de Andrade. Entre esses, o diretor filmou Macunaíma (1969), uma adaptação do livro de Mário de Andrade, Os inconfidentes (1972), baseado nos Autos da devassa e na poesia de Tomás Aquino Gonzaga e Cecília Meireles, Guerra conjugal (1975), uma adaptação de contos de Dalton Trevisan, o curta-metragem Vereda tropical, no filme de episódios Contos eróticos (1977), baseado no conto de mesmo nome escrito por Pedro Maia Soares.
Segundo o diretor, sua intenção não era fazer uma “adaptação” dos livros que geraram os filmes: ele partia de uma ideia e buscava um livro que servisse de suporte a ela. Valia-se da literatura como referência que balizava as inúmeras possibilidades no universo criativo que um roteiro original poderia oferecer. Utilizava-se de mais de uma obra como fonte, como é o caso de Os inconfidentes e O homem do pau brasil. Seu interesse era tratar de temas contemporâneos a partir das obras sobre as quais se debruçava. Para Joaquim Pedro, a busca da transposição da literatura para o cinema, às vezes difícil, às vezes inalcançável, é geradora de uma forma cinematográfica nova, transformada a cada filme. Assim, o processo de criação se distende: no diálogo com a equipe do filme, no nível cinematográfico; com os textos que servem de referência, provenientes de épocas variadas da cultura brasileira, no nível literário; e com as questões mais próximas da contemporaneidade, no nível temático e contextual. Nesta apresentação, pretendo me deter sobre dois filmes do diretor: O padre e a moça e O homem do pau brasil, procurando perceber exatamente os “diálogos” que resultaram nos filmes. Diálogos que se dão primordialmente com os textos que lhe inspiraram mas que também podemos estender a outros filmes e mesmo a outros tipos de expressão artística, como as artes visuais e o teatro. Segundo Joaquim Pedro, O padre e a moça é um filme sobre a “inibição”, limite que separa o personagem da própria vida, separação reforçada pela fotografia contrastada de Mário Carneiro, que procurou trazer para o filme a bidimensionalidade da gravura, ou pelos enquadramentos mais distanciados que deixam entrever um certo estranhamento do personagem com o meio em que se insere. O diretor considera o filme muito mais introvertido do que o poema de Drummond; a pesquisadora Ivana Bentes identifica nele “algo mais terrível e profundo que está no poema”, “uma angústia metafísica” inextinguível. Joaquim Pedro cria uma nova linguagem, alternando distâncias e aproximações com o texto que lhe inspira. Em O homem do pau brasil, o diretor realiza uma curiosa fusão entre a vida, a obra e o contexto cultural em que vivia Oswald de Andrade. Baseia-se nas memórias do escritor e no livro Serafim Ponte Grande, mas utiliza também outras fontes, como o poema Cântico dos cânticos para flauta e violão e trechos da revista modernista Klaxon. O filme remete a uma ampla gama de referências da cultura brasileira: das músicas – que variam do universo popular ao erudito – à iconografia, que remete principalmente à obra de Tarsila do Amaral. Para Joaquim Pedro, o filme “tem uma quantidade suicida de palavras por metro linear”. Não podemos deixar de notar um certo paralelismo entre a forma do filme e a do livro, na forma compactada da narrativa ou nas bruscas passagens do tempo, por exemplo. Procuro compreender a maneira como Joaquim Pedro trabalhou, nesses filmes, com o texto fonte e com outras referências, e como o diálogo com os textos – entre a expressão mais sintética da poesia, no caso do primeiro filme, e o diálogo com diversas fontes, inclusive jornalísticas, no caso do segundo – podem gerar processos criativos que resultam em filmes tão diferentes. |
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Bibliografia | AVELLAR, José Carlos. O chão da palavra. Cinema e literatura no Brasil. Rio de Janeiro: Rocco, 2007.
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