ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Juventudes de classe média no cinema nacional contemporâneo |
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Autor | Mariana Souto |
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Resumo Expandido | Atualmente, a classe média tem se mostrado temática relevante no panorama do cinema nacional, tanto no âmbito das produções comerciais da Globo Filmes quanto nas de menor porte, como os filmes de Beto Brant e José Belmonte. Muitos são os lançamentos que tratam desse universo social na década de 2000. Entre eles, vários enfocam a juventude, momento que parece concentrar alguns traços característicos dessa classe, mas colocando-os em crise, já que certas dificuldades da classe média despontam com maior intensidade nas novas gerações, como a difícil inserção no mercado de trabalho e a vulnerabilidade dos relacionamentos pessoais.
Buscamos apreender, no cinema, a maneira como a juventude transita em meio às possibilidades de um contexto brasileiro de classe média, ou, como se dá o embate entre projeto e campo de possibilidades desses jovens em filmes nacionais contemporâneos. Projeto, conceito explorado pelo antropólogo Gilberto Velho, é definido como a conduta organizada para atingir objetivos específicos, isto é, a ação com finalidade pré-determinada. A trajetória de um indivíduo pode ser entendida em termos da expressão de um projeto. Não há como pensá-lo sem um conceito complementar, qual seja, o campo de possibilidades, entendido como a dimensão sociocultural, espaço de elaboração e implementação de projetos. O projeto, portanto, não é um fenômeno puro, interno e subjetivo; não pode existir sem referência ao outro e ao social. Ele ocorre tendo em vista um repertório cultural relativamente limitado, com premissas compartilhadas em determinado universo contextual (VELHO, 1999). A escolha por esses conceitos se justifica por olhar para o sujeito dentro da classe, numa abordagem capaz de dar vazão às manifestações individuais em um microcosmo recortado a partir de um coletivo maior e de difícil manejo. Aplicaremos as explanações de Velho ao estudo da classe média juvenil. A juventude é momento de experimentação do social, fase de construção de projetos por excelência, em que o indivíduo ensaia elaborações sobre o que pretende efetivar na idade adulta. Segundo Dayrell (2003), todos os jovens têm projetos, uma orientação a partir de escolhas ancoradas em avaliações de realidade, que podem ser amplos ou restritos, de curto ou longo prazo, dependendo do campo de possibilidades, isto é, do contexto sócio-econômico-cultural que modela suas possibilidades de experiência. Na pós-modernidade de estruturas cada vez mais fluidas e acentuação no presente (BAUMAN, 2001), os projetos podem tender à fragilidade, ao provisório. Observamos, em nosso objeto de análise, a construção dos personagens, ambiente de cena e montagem. Proibido proibir (Jorge Durán, 2007) é um longa protagonizado por jovens estudantes universitários que vivem os dilemas de um triângulo amoroso, enquanto transitam entre o campus, a cidade e a favela – esta última figurando como local de trabalho de campo, um desafio social. O filme dialoga com questões contemporâneas, como as alianças amorosas instáveis e aponta para novas formas de participação de uma juventude descrente dos tipos de mobilização tradicionais. Proibido proibir faz um recorte de uma época da vida em que um projeto ingênuo e pouco consistente esbarra em um campo de possibilidades complexo e desalentador, característico de uma certa realidade brasileira. Por isso, pode ser visto como um amargo ingresso à vida adulta, um ritual de passagem que traz à tona sentimentos de impotência e frustração. Os personagens passam por um crescimento doloroso, em que amadurecer se confunde com endurecer. A partir da análise, acreditamos ser possível averiguar como se dá a presença da juventude de classe média no filme de Durán ou, em outras palavras, como o cinema elabora, em imagem e som, a maneira como o jovem brasileiro se relaciona com seu imaginário, seus desejos, sua sociedade e seu tempo. |
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Bibliografia | AQUINO, L.; ANDRADE, C. Juventude e políticas sociais no Brasil. Brasília: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 2009.
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