ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Cinema inocente: arte erótica em Filme de amor, de Júlio Bressane |
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Autor | Fabio Camarneiro |
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Resumo Expandido | Umas das características centrais do cinema de Júlio Bressane é sua intertextualidade com outras manifestações artísticas. “Tabu” e “O mandarim” são filmes que dialogam com a história da canção popular brasileira. Já a literatura aparece em obras sobre Machado de Assis (“Brás Cubas”, “A erva do rato”), o Padre Antonio Vieira (“Sermões”) ou a poesia concreta (“Galáxias”).
Em “Filme de amor”, longa de 2003, o diálogo se realiza com as artes plásticas. Livremente baseado nos personagens mitológicos das Três Graças, “Filme de amor” retrata as fantasias eróticas de três personagens que, no encerramento da narrativa fílmica, são revelados como um barbeiro, uma manicure e uma ascensorista em um prédio comercial no centro do Rio de Janeiro. Personagens populares, aos quais se justapõem citações cultas – através do erotismo, “Filme de amor” cria um liame entre “alta” e “baixa” cultura. Em diversos de seus filmes, Bressane apresenta trechos de filmes eróticos do início do cinema. Uma referência a certo “cinema inocente”, também o título de um curta realizado pelo diretor durante os anos 1970. O adjetivo “inocente” se deve a duas relações complementares: o uso de um erotismo velado e, para os padrões contemporâneos, “ingênuo” e também o deslumbramento do próprio cinema com suas possibilidades técnicas e narrativas. A descoberta e o fascínio perante o cinema se equivale ao prazer frente ao corpo nu feminino. O estabelecimento dos procedimentos narrativos clássicos no cinema criaria uma codificação tanto para a linguagem, quanto para a relação do olhar em relação ao corpo da mulher – como analisado no artigo de Laura Mulvey, “Prazer visual e cinema narrativo” (XAVIER, 1983). Em “Filme de amor”, Bressane tenta recuperar uma outra relação entre o olhar do espectador e o corpo nu (notadamente o feminino), um olhar anterior à codificação da linguagem cinematográfica e dos modos de ver da era moderna que, como aponta Jonathan Crary, transforma “o corpo que vê” em algo “organizado e tornado produtivo” (CHARNEY; SCHWARTZ, 2001, p. 70). Durante o século XIX, estabelece-se esse novo olhar, principalmente a partir da pintura francesa, notadamente os realistas (como Gustave Courbet) e impressionistas (como Édouard Manet). Ambos são citados por Bressane em “Filme de amor”, que atualiza e redefine as questões desse olhar moderno, estabelecendo um debate a partir das obras eróticas do artista francês de origem polonesa Balthus (1908-2001), uma presença constante em “Filme de amor”, seja através de seu imaginário, de seus procedimentos ou da citação direta de seus quadros. |
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Bibliografia | AUMONT, Jacques. O olho interminável: cinema e pintura. São Paulo: Cosac Naify, 2004.
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