ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Índices de um pensamento em processo nos roteiros de Eles não usam black-tie |
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Autor | Laila Rotter Schmidt |
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Resumo Expandido | Obra de representatividade nacional e internacional, Eles não usam black-tie se baseia na peça homônima escrita por Gianfrancesco Guarnieri, em 1955, considerada um marco da dramaturgia brasileira. Realizado mais de 20 anos depois da estreia da peça, o filme de Leon Hirszman atualiza o texto teatral ao inseri-lo no efervescente contexto social e político da virada dos anos 70-80. A obra cinematográfica passa a dialogar com a realidade de sua época, expressando uma postura crítica, nos moldes do nacional-popular. Este diálogo se enriqueceu com a realização do documentário ABC da Greve, que rendeu a Hirszman a valiosa experiência de acompanhar piquetes, trabalhadores em greve e negociações por 90 dias no ABC paulista. Quando voltou a se reunir com Guarnieri, deu início às discussões que levariam quase seis meses para culminar na definição do roteiro de Eles não usam black-tie. Dentre as inúmeras possibilidades de leitura que este filme oferece, o presente trabalho propõe uma abordagem ainda pouco explorada, que se concentra no processo de criação que deu origem a Eles não usam black-tie, valendo-se do referencial teórico e metodológico da Crítica Genética e concentrando-se nas diferentes versões de roteiros criadas para o filme. Para Cecília Salles, o processo criativo pode ser caracterizado como um trajeto com tendência em permanente mobilidade, sujeito à intervenção do acaso, que conduz a diferentes possibilidades de obra. (1998, p. 26-27) Dentre as linhas de força que sustentam as tendências do trajeto, está o projeto poético do artista: princípios éticos e estéticos que direcionam seu fazer. (1998, p. 37-29) A multiplicidade de relações aí implicadas, assim como a não linearidade do processo, conduz à ideia de criação enquanto rede. (2006, p. 17) “O crítico, ao estabelecer nexos a partir do material estudado, procura refazer e compreender a rede de pensamento do artista.” (2006, p. 27) Eles não usam black-tie oferece amplo potencial para abordagens processuais tanto pelas características complexas de seu processo de criação (passagem do texto teatral para o cinema, interação entre autores, atualização temporal, relação com o contexto histórico etc.) quanto pela grande quantidade de documentos que registram seu percurso construtivo. Para os propósitos deste trabalho interessam, principalmente, três diferentes versões de roteiros criadas por Hirszman e Guarnieri, cuja ubiquação é o Arquivo Edgard Leuenroth (IFCH - UNICAMP). Neste acervo, juntamente com cada versão, se encontram cópias destas, algumas com extensas anotações manuscritas, que revelam um movimento processual interno a cada roteiro, além daquele que se estabelece entre as diferentes versões. Por meio de uma análise comparativa entre os roteiros, a proposta deste trabalho é estabelecer relações entre as modificações que conduziram às diferentes tentativas de materialização da obra, buscando identificar recorrências nas decisões tomadas. Em outras palavras, o objetivo é identificar e compreender “tendências” e “modos de ação” (SALLES, 2006, p. 36) que caracterizaram o pensamento em processo dos criadores e direcionaram o percurso construtivo de Eles não usam black-tie, em especial no âmbito da escritura dos roteiros, buscando contribuir com a aproximação ao processo criativo deste filme, o qual é objeto da nossa pesquisa de mestrado em desenvolvimento. |
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Bibliografia | CAMPOS, H. Da transcriação: poética e semiótica da operação tradutora. In: OLIVEIRA, A. C.; SANTAELLA, L. Semiótica da Literatura. São Paulo: Educ, 1987. GALVÃO, M. R.; BERNARDET, J. Cinema: repercussões em caixa de eco ideológica. São Paulo: Brasiliense, 1983. GRÉSILLON, A. Elementos de crítica genética: ler os manuscritos modernos. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2007. LAWSON, J. H. O processo de criação no cinema: pesquisa de linguagem e estrutura audiovisuais. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1967. MERTEN, L. C. Leon Hirszman: cabeça fria, cabeça pensante, cabeça política. A Revista, São Paulo, n. 9, 2003, p. 15. MONZANI, J. M. A. S. Uma visada sobre Deus e o Diabo na terra do sol: O processo de criação do jovem Glauber. In: BORGES, G. (Org.) Nas margens: Ensaios sobre teatro, cinema e meios digitais. Lisboa, 2010, p. 129-144. SALLES, C. A. Gesto inacabado: processo de criação artística. São Paulo: Annablume, 1998. ____________. Redes da criação. Vinhedo: Editora Horizonte, |