ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Não se pode ter tudo: Convergência e frustração |
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Autor | Pedro Peixoto Curi |
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Resumo Expandido | A prática de veicular um produto de entretenimento através de múltiplas mídias, para explorar melhor diferentes mercados destaca uma estratégia importante para a indústria cultural norte-americana no fim do século XX: a sinergia (Davis e Dickinson, 2004 : 88-90).
Jonathan Gray, em seu recente livro “Show sold separatey: promos spoilers and other media paratexts” (2010), usa o termo sinergia para falar sobre os materiais periféricos que se constroem e circulam em torno de um texto midiático e defende a ideia de que filmes e programas de televisão são apenas uma pequena parte da presença massiva e estendida de textos fílmicos e televisivos nos ambientes em que vivemos. Para ele, é impossível analisar esses textos ou seus impactos culturais sem levar em conta suas mais diversas proliferações. Esses materiais têm como objetivo promover esses textos e criam um universo em torno deles. São os trailers, os vídeos promocionais, as informações de bastidores que “vazam” para o público ou são descobertas por eles, assim como brinquedos, livros, jogos de videogame e até novos textos desenvolvidos por consumidores. Se apropriando dos termos de Gerard Gennette, ele opta por chamá-los de paratextos. Em Cultura da Convergência (2008), Henry Jenkins apresenta a sinergia como a oportunidade econômica representada pela capacidade de possuir e controlar manifestações de um conteúdo por diferentes sistemas de distribuição. Junto à extensão – tentativas de expandir mercados potenciais pelo movimento de conteúdos por esses sistemas – e à franquia – “empenho coordenado em imprimir uma marca e um mercado a conteúdos ficcionais, sob essas condições” -, a sinergia seria uma peça fundamental à cultura da convergência. Paralelo a isso, diante dos rápidos avanços nas tecnologias de distribuição, alguns pesquisadores que concentram seus estudos na cultura dos fãs deixam de pensar em alguns produtos como importados e passam a caracterizá-los como globais, com públicos internacionalmente dispersos (Harrington e Bielby, 2007 : 180). No entanto, ao tratar o consumo midiático como “talvez o meio mais imediato, consistente e difundido pelo qual a ‘globalidade’ é experimentada” (Murphy e Kraidy apud Harrington e Bielby, 2007 : 179), tem-se a ideia equivocada de que é possível consumir um produto dito global em sua totalidade de qualquer lugar do mundo. Não há dúvidas de que os fãs formam um grupo importante dentro das audiências, um público ideal, disciplinado, que corre atrás de informações e produtos relacionados às histórias que ama. Mas esse grupo é uma minoria. O fã é um consumidor caracterizado pelo excesso. Ele possui modos próprios de consumir cultura e de se relacionar com outros espectadores. Os estudos de fã ligados à cultura da convergência, muitas vezes, negligenciam os espectadores não-fãs, aqueles que dedicam pouco tempo de suas vidas a filmes e programas de televisão, limitando-se a acompanhá-los pela televisão ou na sala de cinema, sem correr atrás de outros paratextos. Para esse público, o excesso de informação é exaustivo e a consciência de que não estão tendo acesso a toda a narrativa por meio dos produtos originais causa estranhamento e até frustração. Por outro lado, ainda que tenham acesso aos textos em si, alguns fãs brasileiros não conseguem chegar tão facilmente a alguns paratextos. Alguns deles até podem ser veiculados pela internet, mas alguns produtos relacionados a textos norte-americanos podem estar bloqueados para usuários estrangeiros, não estão disponíveis para venda na internet ou são oferecidos por preços proibitivos. Desta forma, espectadores brasileiros, ao contrário do que muitos pensam, não tem acesso a todo o universo dos produtos que consomem. Esse trabalho procura investigar, a partir de uma ideia de frustração, o ponto de vista do público nos estudos da Cultura da Convergência, revelando grupos específicos de espectadores de produtos audiovisuais convergentes que não estão totalmente incluídos nesse novo modelo. |
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Bibliografia | DAVIS, Glyn; DICKINSON, Kay (orgs.). Teen TV: Genre, Consumption, Identity. Londres: British Film Institute, 2004.
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