ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | O Jovem Kubrick: ontologia da imagem fotográfica |
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Autor | Rafael Luiz Ciccarini Nunes |
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Resumo Expandido | Conhecido por ser perfeccionista, compulsivo, e controlador, mas também um artista singularmente intuitivo, Stanley Kubrick foi alguém que viveu para o seu próprio cinema, que travou com ele uma sempre fascinante luta em busca da perfeição e da excelência formal. Sua obra cinematográfica é composta por três curtas e treze longas-metragens. Não deixa de ser curioso que, em se tratando de um diretor cuja obra é marcada por mergulho profundo no universo de possibilidades da ficção, sua iniciação no universo das imagens tenha se dado pela fotografia e pelo documentário (seus três curtas-metragens iniciais), ambas atividades intimamente ligadas com o instante, a instabilidade, o momento que “não se repete”.
Ainda jovem, em 1945, Kubrick é contatado pela revista Look, tendo trabalhado como fotógrafo até 1949. Recentemente, autores como Rainer Crone (2005) vêm realizando extensos trabalhos de pesquisa no sentido não apenas de recuperar fisicamente tais trabalhos como também de oferecer-lhes olhares minuciosos: pare ele, Kubrick é nome decisivo da fotografia do século XX, entre outras coisas, pela força e potência do olhar que o jovem fotógrafo lança à América do pós-guerra. Porém, para além de seu valor intrínseco, há uma série de possibilidades de relações entre sua profissão de origem e seu trabalho cinematográfico. A fotografia é uma atividade que tem em sua essência o contato direto com o mundo, com a realidade. Em Stanley Kubrick Boxes (Reino Unido – 2008), o diretor Jon Ronson relata a extensa pesquisa que realizou no imenso arquivo pessoal de Kubrick; ali vemos quea fotografia continuou sendo central em seu processo criativo: havia, nos arquivos, milhares de fotografias resultantes das pesquisas encomendadas para seus filmes; a preocupação com os detalhes era absoluta e, por vezes, um simples elemento, como um portão de entrada de determinada casa, demandava de seus assistentes centenas de fotos. Portanto, parece haver ao mesmo tempo um interesse direto e intenso para a realidade (típico dos documentários e da fotografia) e um forte investimento no potencial da ficção. Então, se por um lado há um cinema profundamente racional, quase científico, por outro ele escancara uma dimensão outra, inacessível à razão. Ou seja, talvez a força do seu cinema emirja justamente dessa tensão entre razão e instinto, técnica e arte, realidade e emulação obsessiva da mesma via repetição. Kubrick não parte uma tese pregressa e realiza um filme para confirmá-la, mas faz de sua feitura a própria busca, a própria investigação, as próprias perguntas – e o durante, o instante da filmagem é parte decisiva desse processo. Aqui podemos lembrar Fernão Ramos, para quem “(...) Grandes cineastas da narrativa cinematográfica, percebem as pontencialidades da tensão do presente que transcorre como presença na tomada, e articulam sua estilística para exponenciar esta intensidade de modo poético” (2001) . Há todo um percurso histórico e teórico a respeito dessa relação entre o cinema como potencializador da realidade, que vem necessariamente do primeiro cinema, mas com importantes questões colocadas por Dziga Vertov e André Bazin. Nesse sentido, vale pensar a origem fotográfica e documental de Kubrick em tensão com seus procedimentos ficcionais, vários deles, inclusive, bastante afins com algumas das idéias chave do realismo baziniano. Também, ao pensarmos Kubrick como sendo dos cineastas que toma o cinema como forma privilegiada e expandida de travar contato com o mundo, estamos, de certa forma, colocando o diretor no cerne do que Bazin defende em seu célebre ensaio “Ontologia da Imagem Fotográfica” (1991), onde parte da fotografia para defender uma relação ontológica do cinema com a realidade, por si só ambígua e misteriosa, sendo o cinema capaz de potencializar tais imanências. Compreender tais relações parece, pois, fundamental a um olhar renovado para um cinema tão canônico quanto ainda aberto a possibilidades as mais diversas de análise. |
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Bibliografia | ANDREW, J. Dudley. As principais teorias do cinema. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.
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