ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | De volta para o futuro: neo-superoitistas na cena baiana |
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Autor | Marcos Pierry |
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Resumo Expandido | Após o surto dos anos 1970, propagado na eclosão de aproximadamente 200 filmes produzidos, o cinema Super-8 na Bahia, conforme o esvaziamento de interesse que atinge a bitola em outros pontos do país, encerra seu ciclo e permanece por duas décadas em um quase completo esquecimento por parte dos diversos agentes do ambiente cultural local que no período anterior, à sorte de condições bem específicas, haviam logrado à esta produção um nível de reconhecimento considerável.
Tal esvaziamento, certamente relacionado à obsolência tecnológica das até então consideradas câmeras leves, sobretudo com o advento do VHS, bem como associado ao suposto anacronismo das proposições (libertárias, experimentais, anti-narrativas, desbundadas...) dispostas nos filmes gerados a partir do equipamento, será sucedido, a partir do final da década de 1990, por uma escalada de reconhecimento que irá transformar o material captado em Super-8 em preciosos rolinhos que testemunham uma página ainda a ser contada na história do cinema baiano. As poucas revisões da exígua crítica especializada ou as incursões da pesquisa acadêmica na cinematografia baiana costumavam ignorar o ciclo superoitista. Destaca-se, no conjunto de resultados desta tardia erupção de interesse pelos filmes da pequena bitola, uma série de trabalhos de cunho documental produzidos em vídeo digital por uma emergente classe universitária que freqüenta, pela primeira vez, um curso superior de cinema – o que passa a ser oferecido com regularidade, em Salvador, pela primeira vez, em julho de 2001 pela Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC), onde o autor desta proposta de comunicação leciona desde 2003. Esta comunicação pretende se deter sobre esses trabalhos com o objetivo de traçar-lhes um perfil, indagar os prováveis fatores que os teriam motivado e propor uma discussão sobre o que representam e/ou alteram esses vídeos no quadro histórico e simbólico da cultura local, uma vez que em alguma medida resgatam e tecem conjecturas sobre uma produção de determinada geração. Balanço de conjunturas – políticas, estéticas, ideológicas, tecnológicas – é o que se pretende antever a partir deste ponto, em um possível ensaio para uma reflexão da própria condição brasileira contemporânea. Entre as dezenas de títulos do ciclo superoitista na Bahia, destacam-se alguns dos realizados por Edgard Navarro (O Rei do Cagaço, 1977, e Exposed, 1978), Fernando Bélens (Ora Bombas ou A Pequena História do Pau, Brasil, 1981, e Experiência 1-B Transformada, 1975), Pola Ribeiro (A Conversa, 1975), José Araripe Jr. (Retina Gatilhada, 1980), José Agrippino de Paula (Céu sobre Água, 1978), Mário Cravo Neto (Gato / Capoeira, 1979) e a dupla José Umberto Dias e Robinson Roberto (Brabeza, 1978). Sem ter como objeto nem todos os realizadores mencionados, e recorrentemente visitando o currículo e a persona de Edgard Navarro, os vídeos em análise não se limitam ao curso de cinema e vídeo da FTC e nem mesmo exclusivamente a essa instituição. Enumeramos, entre eles: Luz Sombra (2005), de Paulo Fernandes, Cabeça Bitola Super-8 (2005), de Gabriela Barreto, e As Faces do Cineasta Gauche (2009), de Maiara Bonfim, Jackson Árleo e Analu Nascimento. Este é um consistente e crescente revival que deve ser analisado em cotejo com outros fatores extra-locais, a exemplo da Mostra Marginalia 70 (2001), promovida pelo Instituto Itaú Cultural, sob a curadoria de Rubens Machado Jr., que recuperou e exibiu 19 títulos do Super-8 baiano e cumpriu itinerância por várias cidades do país, passando inclusive por Salvador (BA); a recuperação de alguns dos filmes de Edgard Navarro, iniciativa bancada pela Petrobras (2001); e mesmo a (inédita) inclusão do verbete Super-8 no Dicionário Aurélio em meados do ano 2000. Não deve ser ignorado o fato de vários veteranos da bitola terem estreado no longa-metragismo na última década, o que fez seus nomes retornarem com freqüência a mídia local e nacional. |
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Bibliografia | AGAMBEN, Giorgio. O que é o contemporâneo? e outros ensaios. tr. Vinícius Nicastro Honesko. Chapecó, SC: Argos, 2009, 95 p.
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