ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Experimentando o “audiovisual em performance” |
|
Autor | Beatriz Morgado de Queiroz |
|
Resumo Expandido | Pela falta de rigor com que é comumente utilizado no campo da arte hoje, o termo “performance audiovisual” permite nos referirmos a uma imensidade de trabalhos artísticos, pois não diferencia o tipo de relação proposta entre a performance e o audiovisual. Considerando as muitas possibilidades criativas que essa fronteira comporta, investigaremos as diferentes combinações de elementos desses dois campos e suas conseqüências estéticas para o pensamento contemporâneo em arte. Para pensar estes cruzamentos, convocaremos as noções de performance propostas por Goldeberg (2006) e por Cohen (1989) como uma arte viva, aberta e impura, que não comporta rótulos. Delimitaremos a emergência da arte da performance a partir dos processos de intersemiose (Santaella, 2003) lançados pelas vanguardas estéticas do século XX, assim como a formação de uma cultura audiovisual atravessada pelo cinema, televisão, vídeo e computador. Dedicaremos especial atenção às interseções entre a performance e o vídeo, pois ambos rompem com o ideal de pureza moderna e favorecem às hibridizações. Dubois (2004) contribuirá para atiçar novas possibilidades lançadas por uma estética do vídeo que pensa as imagens. Chamaremos “registro da performance”, os trabalhos em que o audiovisual transita pela arte de performance a partir do registro documental de suas ações, servindo apenas para reproduzir os registros da obra enquanto acontecimento, mas não substituindo a performance em si. Já “o audiovisual como elemento da performance” será usado para apontar inúmeros artistas que incorporam câmera, monitores ou telas como elemento para compor seus trabalhos de performance. Destacamos ainda a “videoarte”, a “videodança” e a “videoperformance” como formas intermídia (Higgins, 1984) que buscam possíveis variações da imagem enquanto estado transitório, incitando cruzamentos produtivos e singulares do vídeo com o campo da performance. O “videoperformance” (Sharp In Labra, 2008) trata de performances concebidas para serem apresentadas exclusivamente em suporte audiovisual, não implicando a presença de público para sua realização. Desloca-se o sentido do ao vivo, pois o público perde o contato com a criação em tempo real e tem acesso apenas aos sons e imagens previamente editados, sem o qual, no entanto, o trabalho não existiria. O vídeo, nesse caso, é tanto integrante quanto inseparável da própria performance. As inúmeras possibilidades de edição e multiplicação de fragmentos fechados e curtos já possibilitam a essa imagem-vídeo (Dubois, 2004) “pensar” a performance e não apenas registrar ou narrar. Complexificando o binômio performance-audiovisual, propomos a noção de “audiovisual em performance” para discorrer sobre as obras que trabalham o próprio audiovisual acontecendo como uma performance, ou seja, ao vivo. Essa imagem-processo (Bellour, 1997), não está mais a serviço da performance, agora áudio e imagem estão também EM PERFORMANCE, postos em relação a partir das possibilidades de produção em tempo real, como um acontecimento vivo, imprevisível e singular. O corpo da performance é o corpo da imagem sonora, que não existe a priori. No campo de problemas gerado pela manipulação/criação de imagens ao vivo, incluiremos desde trabalhos em ambientes institucionais da arte, como museus e galerias, até em eventos musicais (mais conhecidos pelos termos vjing e cinema ao vivo). Mostraremos como o “audiovisual em performance” é explorado artisticamente em “instalações audiovisuais interativas”, onde o espectador tem função ativa na imagem-corpo (Arantes, 2006) em performance. Entre as inúmeras criações situadas nessas tramas, finalizamos o ensaio com uma breve análise da instalação multisensorial OP_ERA, de Daniela Kutschat Hanns e Rejane Cantoni, desenvolvida em sistemas de realidade virtual em cavernas digitais, onde, através da participação do público interferindo na temporalidade da obra (MACIEL, 2006), são criados sons e imagens em tempo real. |
|
Bibliografia | ARANTES, P. Arqueologia das imagens técnicas. In: Revista Polêmica. Rio de Janeiro: UERJ, 2006. n.16. BELLOUR, R. Entre-imagens: foto, cinema, vídeo. Campinas, Papirus, 1997. COHEN, R. Performance como linguagem. São Paulo: Perspectiva, 1989. DUBOIS, P. Cinema, Vídeo, Godard. São Paulo: Cosac & Naif, 2004. GOLDBERG, R. A arte da performance – do futurismo ao presente. São Paulo: Martins Fontes, 2006. HIGGINS, D. Horizons: The Poetics and Theory of the Intermedia. Southern Illinois University Press, 1984. LABRA, D. (org).PERFORMANCE, PRESENTE E FUTURO. 2008. (Catálogo) MACIEL, K. Transcinemas. Rio de Janeiro: Ed. Contra Capa, 2009. MORAN, P. PERFORMANCE AUDIOVISUAL (verbete). In: Enciclopédia Itaú Cultural Arte e Tecnologia. NORONHA, M. Audiovisual e performance. In: Revista Universitária do Audiovisual, 2008. SANTAELLA, L. Culturas e artes do pós-humano: da cultura das mídias à cibercultura. São Paulo: Paulus, 2003. |