ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | A discussão de gênero no cinema brasileiro através da pornochanchada |
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Autor | Luiz Paulo Gomes Neves |
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Resumo Expandido | A pornochanchada, gênero popular brasileiro iniciado em finais da década de 1960, é geralmente dividida em duas fases: a primeira, situada no Rio de Janeiro entre 1969 e o final da década de 1970, estruturada mais em comédias de costumes; e a segunda, situada em São Paulo a partir da década de 1980, com um diálogo mais aberto com as produções de sexo explícito.
Cabe destacar que a pornochanchada está sendo abordada como gênero nacional, e não como ciclo, devido a possibilidade de reconhecimento de traços específicos em sua produção (por realizadores, distribuidores, exibidores, imprensa, estudiosos e público), que levam a uma diferenciação, permitindo uma análise do gênero como produto específico do cinema brasileiro. Partindo do pressuposto do gênero enquanto um sistema de convenções estruturadas a partir de valores culturais, busca-se uma problematização dos parâmetros que delimitam historicamente o gênero da pornochanchada. Seja da sua estreita ligação terminológica com a comédia ou mesmo da divisão em fases e contextos de produção, no Rio de Janeiro sendo considerada “softcore” e em São Paulo, na Boca do Lixo, “hardcore”. O marco inicial da pornochanchada, pela imprensa e pelos pesquisadores, é o ano de 1969 por conta de duas produções: Os paqueras, direção de Reginaldo Farias, e Adultério à brasileira, direção de Pedro Carlos Rovai. Ambos os filmes tiveram uma boa recepção de público e crítica, abrindo espaço para uma linha de longas focados nas comédias de costumes. Contudo, desde meados da década de 1960, podemos observar a produção de comédias brasileiras que abordavam o sexo e as relações amorosas. Diretores como Roberto Farias, Domingos de Oliveira, Leon Hirzman e Nelson Pereira dos Santos, entre outros, realizaram filmes, que através da crônica urbana de costumes, atingiram uma forte interlocução o público. A comédia enquanto definidora do gênero da pornochanchada também pode ser questionada ao analisarmos produções normalmente identificadas como parte da produção das pornochanchadas, porém que faziam um diálogo maior com a aventura, Dezenove mulheres e um homem (David Cardoso, 1977), ou mesmo o terror/suspense, O Dr. Frank na clínica das taras (José Mojica Marins, 1986). Deve-se levar em conta que o mercado de pornografia estava se expandindo gradualmente desde a década de 1960 e que a possibilidade de uma produção com um maior diálogo com os códigos do hard core, a partir de fins dos anos 1970, na Boca do Lixo, só foi possível com a abertura política no Brasil. Entretanto, alguns realizadores da primeira fase, como Pedro Carlos Rovai ou Carlos Mossi, não consideram a segunda fase como pornochanchada, mas sim como puro sexo explícito. Mossi, nos DVDs vendidos em sua produtora, faz questão de iniciar seus filmes com a seguinte cartela: “Pornochanchada não é pornografia”, negando qualquer possibilidade de interlocução das produções da Boca com o gênero. Por outro lado, em uma busca pela internet, percebe-se que a maior parte dos downloads de filmes disponíveis em blogs ou listas de discussão sobre pornochanchada são referentes justamente às produções ligadas com o sexo explícito. Não se pretende aqui fazer uma revalorização da pornochanchada, diferenciando as produções, de ambas as fases, em termos narrativos, estéticos ou mesmo na amplitude das suas relações com os códigos da pornografia. O objetivo é pensar na recepção dos filmes através da distinção que o gênero vai ter para os diferentes sujeitos em diferentes circunstâncias históricas, gerando a possibilidade de se problematizar a extensão do gênero da pornochanchada e também de se pensar a mesma como um gênero genuinamente nacional, através de estudos e teorias de gêneros mais atuais. |
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Bibliografia | ABREU, Nuno César. Boca do Lixo: Cinema e Classes Populares. Campinas: Editora Unicamp, 2006.
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