ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Hitler 3º. Mundo e a música de fita: edição de som no cinema marginal |
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Autor | Simplicio Neto Ramos de Sousa |
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Resumo Expandido | Minha proposta consiste numa breve analise do tour-de-force de sonorização do filme "Hitler 3ª. Mundo" (1968), empreendido por seu realizador, o prosador, dramaturgo e cineasta vanguardista José Agripino de Paula. Um nome fundamental da contracultura brasileira nos anos 60, influência assumida por nomes importantes como Caetano Veloso e Rogério Sganzerla. Seu livro "Panamérica" (1967) é constantemente citado por Caetano como deflagrador de várias idéias do Tropicalismo. O filme em questão, seu único longa-metragem, foi lançado no mesmo ano de "O bandido da Luz Vermelha", de Sganzerla, e é tido com um dos iniciadores do ciclo mais tarde chamado de "Cinema Marginal". Agrippino, inclusive, chega a participar como ator no segundo longa de Rogério, "A mulher de todos", em 1969. Alguns trabalhos marcantes de analise fílmica foram feitos a partir de outras obras famosas do ciclo "Marginal" brasileiro, como os estudos presentes em "Alegorias do Subdesenvolvimento", livro de Ismail Xavier e em "O vôo dos anjos", de Jean-Claude Bernardet. Mas a maioria ainda no paradigma tradicionalmente focado no estudo do "ponto de vista" e não do "ponto de escuta", da análise da imagem como preponderante à imagem do som. Pretendo assim basear minha analise do filme marginal em conceitos próprios aos Estudos do Som no cinema, trabalhados por autores contemporâneos como Claudia Gorbman. Como sua idéia de "autor melômano", presente em sua analise da obra godardiana como confrontadora da "musica inaudível", típica do cinema clássico. Ou Robyn Stilwell, que com seu conceito de "fantastical gap" (vão fantástico) nos ajuda a mesurar os efeitos que as escolhas de dessincronia audiovisual presentes no filme de Agrippino causam na percepção do som como "diegético" ou não pelo espectador. São portanto conceitos úteis, entre outros que também serão expostos, para levantarmos questões, avançando no entendimento de pistas sonoras fílmicas tal como a de "Hitler 3o. Mundo". Já que estas se assemelham muitas vezes a uma extensa composição musical erudita contemporânea, graças a sua absorção do ruído, da colagem de fragmentos sonoros, das experiências com a materialidade das fitas magnéticas, do recurso ao atonalismo, etc. Até que ponto a banda sonora deste filme é apenas um grande comentário extradiegético? Podemos esclarecer quais, num trabalho experimental como esse, são as fronteiras entre o som diegético e não diegético? Quais as principais implicações da (des)construção sonora para narratividade, no caso? Alguns trabalhos já feitos na direção de uma análise do uso do som em "O Bandido da Luz Vermelha", como os de Guilherme Maia e José Guerrini Jr. - que estudam o esforço de Sganzerla na colagem de fragmentos de locução radiofônica ou o uso do ruído em "Vidas Secas" de Nelson Pereira e da música atonal em "Noite Vazia" de Walter Hugo Khouri -, também foram de grande valia, ajudando a definir a originalidade e o a arrojo do experimento cinematográfico de Agrippino. Pretendemos enfim, assim dar nossa breve contribuição para esse campo da historiografia conceitual do cinema brasileiro. apontando a centralidade que essa obra tem, ao nosso ver, no desenvolvimento das pesquisas de "sound design" no Brasil. |
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Bibliografia | BERNARDET, Jean Claude. O vôo dos anjos. SP: Brasiliense, 1991.
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