ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | O cinema como materialidade discursiva |
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Autor | Julia Scamparini |
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Resumo Expandido | O cinema felliniano apresentou-se, em minha pesquisa de doutorado, como solo para o desenvolvimento de uma investigação teórica e prática sobre a relação entre palavra e imagem a partir do conceito foucaultiano de formação discursiva. Procurou-se, primeiramente em textos escritos, identificar um rol de conteúdos que compunham um sentido de identidade italiana para os italianos, ou seja, entender como a identidade italiana era tratada e entendida por aqueles que a tomavam como assunto. Em seguida, foi investigada a retomada do tema em Fellini, reconhecendo em sete de seus filmes “dizeres” sobre a identidade italiana, alguns reiterados, outros questionados, muitos criticados.
O conceito de formação discursiva de Michel Foucault une – se seu leitor não se limitar a entender texto como texto escrito – textos de materialidades diversas como formas possíveis de manifestação enunciativa e, assim, permite um estudo sobre a configuração de enunciados fílmicos a partir de seu paralelismo com enunciados verbais. É uma opção, portanto, por conceber o cinema como meio que se relaciona com a dimensão verbal da linguagem, a qual constitui condição de sua estrutura e legibilidade. Ainda que seja o verbal a tradicional fonte em que são reconhecidos discursos de uma sociedade em determinada época, são igualmente importantes, assim, os dizeres que estão presentes na trama fílmica, uma vez que também informam o horizonte de pensamento em que uma sociedade se move. Segundo Sorlin (2004, p. 10), o cinema é “um termômetro particularmente sensível para avaliar a passagem do não dito ao perfeitamente claro”. Admitimos que o não dito se encontra, muitas vezes, nas entrelinhas dos discursos difundidos, impressos em livros ou em correntes de ideologia, e, paralelamente, não deixa de se manifestar em filme – também em suas entrelinhas. O diálogo entre uma formação discursiva e sua presença em material fílmico foi observado através do discurso da identidade italiana, identificado em escritos italianos da História e da Sociologia, e filmes de Federico Fellini, todos eles textos que se vinculam por materializarem tal formação discursiva. O que se pretende com esta proposta de comunicação é discutir a aplicação de uma proposta de metodologia de análise que parte da noção de formação discursiva de Michel Foucault e se aprofunda ao se aplicar à linguagem cinematográfica, mas que foi apenas uma vez somente testada. Acreditamos que a revisão desta experiência e uma discussão sobre novas possibilidades de investigação de uma formação discursiva em filme serão responsáveis por aprofundamentos teóricos que definitivamente consolidarão o cinema como documento sociológico de arquivo discursivo. |
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Bibliografia | AUMONT, Jacques et al. Estetica del film. Torino: Lindau, 1998
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