ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | A imposição do realismo no cinema diásporico de Wajdi Mouawad |
|
Autor | Hudson Moura |
|
Resumo Expandido | Littoral é a primeira experiência do dramaturgo quebequense Wajdi Mouawad em transpor a sua peça de teatro homônima para a tela do cinema. A peça nasceu do encontro entre o diretor e os atores, mas também de algumas leituras como as de Édipo, Hamlet e O Idiota. Três príncipes que estão envolvidos em uma relação estreita com o pai. Na peça de Mouawad, o protagonista Wilfrid descobre que seu pai, quem ele quase nunca via, acaba de morrer. Como a família impede o enterro no mesmo túmulo da mãe, em Montreal, Wilfrid decide então levar o pai de volta ao seu país natal. O falecido, assim, vai poder finalmente retornar de seu exílio.
Em sua busca pela terra-mãe para acolher os restos mortais de seu pai, Wilfrid retorna ao país de suas origens “onde ele terá encontros significativos que o permitirá encontrar-se com o próprio fundamento da sua existência e identidade” como explica Mouawad. Esta descoberta ou o encontro do “eu” acontece durante o luto numa peregrinação em meios aos escombros de um país devastado pela guerra. Em Incendies, segunda adaptação da trilogia de Mouawad, a história é de uma mãe que em testamento revela aos filhos gêmeos que eles têm um pai e um irmão em seu país de origem e que devem procurá-los e entregar-lhes uma carta. Eles partem assim em busca desse passado desconhecido e inesperado, ao mesmo tempo que fazem uma jornada de auto-descoberta. No filme Littoral é através da teatralidade (o ritual, a encenação, o jogo teatral) ou de uma performance dos atores próximo do jogo teatral que Mouawad irá construir uma imagem estranha e uma encenação característica do cinema moderno. Ele não busca o naturalismo ou o realismo no seu filme, nem tão pouco o drama filosófico, ou ainda o lado psicológico e ilusório da sua peça de teatro. Enquanto que Incendies digirido por Denis Villeneuve, o realismo é de uma certa forma mascarado pois ele não se impõe como o desejo de capturar ou restituir o real, mas sim um desejo de história. Assim, Villeneuve vai nas raízes desta história "incendiária" e vai inverter o jogo: não é mais o Oriente Médio distante, mas o conflito libanês entre 1975 e 1990; não é mais o folclore multicultural e cenas ilustrativas, mas são eventos históricos que tomam lugar. O filme irá desempenhar um tour de force levando as imagens teatrais-psicológicas "ingênuas" e miméticas dos horrores e dos crimes ao realismo dos sets de filmagem. As exigências do cinema impuseram aos cineastas uma outra aproximação com essas histórias típicas da diáspora. No cinema contemporâneo diaspórico, não é mais possível de encontrar esse lugar mítico do imaginário próprio do teatro, onde o compromisso com o mundo imaginário da personagem é mais facilmente "compreendida" pelo público. Ou ainda, não é mais possível repetir na tela os jogos de cena e os excessos de Mouawad diretor que saturavam os de Mouawad autor. O cinema da diáspora tem a necessidade de materializar o espaço e o tempo na busca de uma certa “autenticidade” do seu discurso. Se os fatos históricos ou o “realismo” da guerra não estão presentes nas peças é porque Mouawad se apresenta como um indivíduo, como um cidadão "comum" do mundo que carrega consigo uma história singular. Ele não reivindica um papel de representante da diáspora libanesa que apresenta um mandado sobre a história do seu povo. A discussão gira em torno do pessoal, do individual, e não sobre as estruturas sociais; do horror da guerra, da cólera, e não sobre as razões políticas ou religiosas. A questão da recriação das peças de Mouawad no cinema é tão importante quanto problemática, pois os diretores não vão tentar adaptar as peças, mas sobretudo de construir um olhar cinematográfico sobre essas histórias de exílio. Nesta comunicação irei discutir as escolhas narrativas da obra de Mouawad do teatro ao cinema e analisar o papel do “realismo” no cinema diaspórico contemporâneo. |
|
Bibliografia | BRAZIEL, Jana Evans and Anita Mannur, eds. Theorizing diaspora. A reader. Blackwell, 2003.
|