ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Migração de conceitos: análise fílmica, ensaio e experiência estética |
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Autor | Rubens Luis Ribeiro Machado Júnior |
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Resumo Expandido | Exercitar métodos que a história da crítica dispõe para analisar os aspectos plásticos do cinema e do vídeo tem exigido retrabalhar os conceitos originários de outras artes visuais, através da análise de obras considerando-se não só a experiência que temos de sua organização estético-formal, como da descrição autocrítica desta experiência buscando sua singularizarão histórica. Temos por horizonte as relações entre as histórias da arte (que nos termos da produção moderna e contemporânea devem aqui compreender as artes plásticas, incluindo-se não só escultura e arquitetura, como fotografia, instalação, arte urbana, ambiental etc.) e do cinema (incluindo-se as novas modalidades de imagem em movimento). Visamos possibilitar a operação a que chamei de migração de conceitos na análise de obras, descrevendo-lhes e comentando-lhes estrategicamente em seu modo de organização no espaço e no tempo.
Ao se fazer a análise estética e historiográfica de obras audiovisuais de artistas e cineastas, foram aflorando em meu percurso de trabalho questões de método que exigiam um re-exame dos procedimentos de análise normalmente utilizados no campo mais geral da crítica e da história do cinema. Os procedimentos de análise imanente se apoiariam inicialmente em autores com Aumont, Leutrat ou Kracauer, por um lado, e Wölfflin ou Argan, por outro, mas com especial com atenção às relações que se estabelecem entre realidades locais e aquelas internacionais. A formação local se volta à observação retrospectiva dos trabalhos de crítica e de história de Ismail Xavier, Jean-Claude Bernardet, Paulo Emílio Salles Gomes, Gilda de Melo Souza, Antonio Candido e Décio de Almeida Prado. Partimos de um pressuposto segundo o qual é necessário discutir um filme falando sobre o modo pelo qual ele está organizado “objetivamente”. Deste ponto de vista surgem de início as seguintes questões: Como ser “objetivo” ao falar de um filme sem deixar de lado a nossa “subjetividade”? Interessados em “comentar”, “interpretar” ou “julgar” uma obra nós não precisamos dizer com exatidão a que nos referimos, e para isso sabermos descrever — no filme — o que nos interessa? Como descrever aspectos de um filme de modo a provocar ou proporcionar a sua crítica? É possível analisar um filme sem comentá-lo, sem interpretá-lo ou sem julgá-lo? Da análise técnica à análise imanente, que fundamentos da crítica se agenciam? Quais são os procedimentos específicos da análise, do comentário e da interpretação? Qual é o espectro de possibilidades práticas e estilísticas de cada procedimento, e como se articulariam no conjunto do texto? Se a articulação do texto é capaz de construir conceitos pertinentes, a análise ganha dimensão ensaística? Como se posicionam as tradições da crítica diante destas questões? A busca de um equilíbrio literário possível entre objetividade e subjetividade integra o esforço ensaístico presente na crítica imanente. Cabe à análise saber associar, incorporar, nossa intuição e fantasia à observação rigorosa da obra em suas formas específicas. Um dos procedimentos diferenciadores da análise imanente face à análise técnica seria aprofundar-se no detalhe para avaliar o conjunto e compreender a experiência estética em seu exercício singular. Descrever não é só informar, é evocação sensível, é destacar sutilmente, é sobretudo já glosar, isto é, dotar a descrição da inteligência do que se percebeu, trazer com ela a experiência estética que tivemos da obra, saber que inventamos um modo (entre outros) de falar da experiência que temos da obra; e também de fazer falar a experiência possível da obra. Sob o desígnio da singularização dessa experiência o emprego de conceitos lavrados mediante a análise de diferentes obras artísticas e realidades culturais e sócio-históricas exigirá sua reconstrução pelo nexo ensaístico. Tomamos momentos de uma crítica de Paulo Emílio S. Gomes para discutir procedimentos analíticos, inspirados em categorias esboçadas por Candido, Barthes, Marin e Aumont. |
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Bibliografia | Adorno, T.W. “O ensaio como forma”, Notas de literatura I. São Paulo: Ed.34, 2003.
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