ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | A representação de São Paulo no cinema da primeira década do sec. XXI |
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Autor | Layo Barros |
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Resumo Expandido | Com a proposta de refletir sobre a predominância de uma visão de São Paulo como cidade infeliz no atual cinema brasileiro, este artigo analisa as produções cinematográficas ficcionais realizadas na capital paulista em que esta é, ao mesmo tempo, pano de fundo e principal foco influenciador de uma imagem triste (no espectador) da cidade.
Para isso, foram selecionados cinco longas atuais que respondem ao problema central do artigo e que, da mesma forma, conseguem refletir tanto as demais obras paulistanas lançadas no período (anos 2000), como diretores desta nova geração que trabalham com temas e abordagens semelhantes sobre a cidade de São Paulo. Excetuam-se assim diretores em atividade anteriores às leis de incentivo dos anos 1990, assim como filmes de retrato histórico. O segundo longa-metragem de Ricardo Elias Os Doze Trabalhos (2007) aborda o choque entre a periferia e a região central da cidade. Ao abordar a história de um garoto recém-saído da Febem que passa a trabalhar como motoboy, o filme foi escolhido por, além de mapear a geografia da cidade como estética para a construção dos planos, trazer o olhar periférico para dentro de um universo geral paulistano. A obra dialoga com Linha de passe (2008) de Walter Salles e Daniela Thomas, Antônia (2007) de Tata Amaral, De Passagem (2004) de Ricardo Elias e Domésticas (2001) de Fernando Meirelles Outra obra a ser analisada, A casa de Alice (2007) de Chico Teixeira, também aborda o subemprego através da personagem principal, uma manicure e dona-de-casa. Porém, seu foco principal recai sobre a relação familiar da classe média baixa e a vida dentro dos apartamentos de bairros afastados. A estética dos movimentos de câmera é restrita por estar presa, assim como sua personagem, dentro de um ambiente superpovoado por um marido infiel, filhos ausentes e uma avó idosa. Outros filmes que se assemelham tematicamente ao de Chico Teixeira são Nossa vida não cabe num Opala (2008) de Reinaldo Pinheiro, Contra Todos (2004) de Roberto Moreira, Durval Discos (2003) de Anna Muylaert e Através da Janela (2000) de Tata Amaral. Não por acaso (2007) de Philippe Barcinski é o terceiro filme analisado dentro do estudo. A obra traz uma abordagem singular sobre a relação de controle da vida entre o homem e a cidade, em um paralelo do trânsito de carros e dos corpos no dia-a-dia. Esta confusão que ultrapassa a vida em movimento do trânsito para dentro da casa e dos relacionamentos, também pode ser visto em filmes como A Via Láctea (2007) de Lina Chamie e Jogo Subterrâneo (2005) de Roberto Gervitz. Também tratando da solidão, agora em uma perspectiva da incomunicabilidade, o filme O signo da cidade (2008) de Carlos Alberto Riccelli referencia a dificuldade nas relações humanas dentro de uma metrópole. O distanciamento e a frieza infringidos pela rotina e dificuldade de se encontrar no mundo perpassam a vida dos ouvintes de uma astróloga e conselheira de rádio – e da vida da mesma. Ao mesmo tempo em que expõe a maldade que a cidade pode causar, o filme demonstra o acolhimento possível àqueles que buscam saber conviver dentro dela. Outros filmes que transparecem o signo da incomunicabilidade presente nas relações em São Paulo, porém em abordagens e estéticas distintas do filme de Ricelli, são Cão sem dono (2007) de Beto Brant e Renato Ciasca, Crime Delicado (2006) de Beto Brant e O cheiro do ralo (2007) de Heitor Dhalia. Se nada mais der certo (2009) de José Eduardo Belmonte é o quinto filme escolhido, sendo o último lançado. Talvez seja o filme mais radical e direto em seu repúdio a São Paulo através das falas das personagens. O ódio que habita a vida dos mesmos é causa de atos inconsequentes, afinal nada mais pode dar certo. O paralelo da desilusão, neste caso, se dá com as obras Corpo (2008) de Rossana Foglia e Rubens Rewald, O magnata (2007) de Johnny Araújo, Nina (2004) de Heitor Dhalia, O Invasor (2002) de Beto Brant e Bicho de Sete Cabeças (2001) de Laís Bodanzky. |
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Bibliografia | BARBOSA, Jorge. Cidade e cinema: dimensões gêmeas da arte e cultura. SP: USP, 2001.
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