ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Cinco vezes favela (1962 e 2010): identidades e ressignificações |
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Autor | Maria Beatriz Colucci |
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Resumo Expandido | No cinema brasileiro, as questões sociais ganharam força no final dos anos 1950 e início de 1960, sendo particularmente relacionadas à tematização das favelas. O filme Rio 40 graus (1955), de Nelson Pereira dos Santos, foi apontado como principal referência nessa transição para o cinema moderno, e considerado por Ismail Xavier como um “proto-Cinema Novo”. Tal tendência teve continuidade, por exemplo, em Cinco vezes favela (1962), filme de cinco episódios, dirigidos por Leon Hirszman, Joaquim Pedro de Andrade, Cacá Diegues, Marcos Farias e Miguel Borges, e um dos objetos de estudo desta proposta.
A partir de 1964, os temas urbanos foram crescentemente tratados pelo cinema brasileiro e a representação da favela passa a privilegiar o debate das grandes questões nacionais. O Cinema Novo definiu um inventário das questões sociais, e depois de 1964 lançou o desafio de um cinema reflexivo: “o espaço urbano e as questões de identidade na esfera da mídia ganham maior relevância” (XAVIER, 2001, p. 28). Esther Hamburger observa, porém, que as últimas décadas se marcaram predominantemente pela ausência da representação dos segmentos populares, moradores de favelas e bairros periféricos das grandes cidades. “A invisibilidade era, e é, expressão de discriminação.” (HAMBURGER, 2005, p. 198). Hamburger identifica um recrudescimento desse tema durante os anos 1970 e 1980, quando predominou a visão de um Brasil pacífico. No final dos anos 1980, a favela ressurge no cinema, mas ressignificada, “como cenário de uma realidade vazada por violência, despotismo do tráfico, falta de alternativa de seus moradores, [...] e a sedução por poder e dinheiro que o trafico de drogas proporciona (LEITE, 2000, p.60). Para Márcia Leite, o cinema contemporâneo, ao colocar em foco as diferentes vozes das favelas, aproxima-se da tradição do Cinema Novo, mas também aponta novos formatos da questão social do país, estimulando um encontro entre “favela” e “asfalto”. Já Ivana Bentes reflete que, ao contrário do Cinema Novo, a violência apresentada nas telas na contemporaneidade é destituída de qualquer finalidade ética, sendo, também, “uma violência percebida pela mediação da mídia, que operando sem qualquer contextualização ou tentativa de entendimento, destaca o espetáculo da impotência e do sem saída” (BENTES, 1999, p. 93). Pretende-se, neste trabalho, investigar as questões colocadas acima a partir de um estudo que inclui a análise da audiência/recepção de dois filmes – Cinco vezes favela, de 1962, já mencionado, e Cinco vezes favela - Agora por nós mesmos, de 2010, projeto de Cacá Diegues e Renata Almeida Magalhães, que reúne curtas-metragens realizados por jovens cineastas de comunidades carentes do Rio de Janeiro. A ideia é discutir o tema e as identidades e mudanças ocorridas nas formas de representação/significação das questões sociais brasileiras pelo cinema, a partir de um ciclo de debates realizado após a audiência dos filmes. O público-alvo é formado por estudantes dos cursos de Comunicação Social da Universidade Federal de Sergipe (UFS) – especialmente de Audiovisual – e participantes do Grupo de Pesquisa sobre Cinema, vinculados ao projeto de extensão Cine Mais UFS. Este estudo, ao colocar em foco a compreensão de um sujeito-receptor e suas diferentes formas de apropriação/construção de sentidos, enfim, de sua relação com os filmes, perpassa o campo dos estudos da recepção midiática, tal como discutido no Brasil por autores como Nilda Jacks, independente das abordagens teóricas e estratégias metodológicas utilizadas. Concordamos com Jacks e Escosteguy, que os estudos de recepção constituem uma vertente das investigações sobre a audiência que busca compreender “os processos pelos quais os sujeitos-receptores se engajam com os meios de comunicação, dentro de determinados contextos e hábitos de assistência, na elaboração e vivência de sentidos tanto em relação às tecnologias em si mesmas quanto à suas mensagens” (ESCOSTEGUY; JACKS, 2004). |
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Bibliografia | BENTES, Ivana. Sertões e subúrbios no cinema brasileiro. In: Cinemais. Rio de Janeiro, n. 15, 1999, p. 85-96.
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