ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Entre o cinema e a fotografia: The Ballad of Sexual Dependency |
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Autor | Juliana Salles de Siqueira |
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Resumo Expandido | The Ballad of Sexual Dependency (diaporama, 1972-2006) consiste no trabalho de maior relevo da fotógrafa estadunidense Nan Goldin e remete, no campo da arte contemporânea, ao gesto autobiográfico que assinalou algumas produções cinematográficas e fotográficas realizadas durante os anos 1960 e 1970. A poética do diaporama seria marcada por um esforço de narração da intimidade e do estilo de vida comum ao seu círculo de sociabilidade, assentando-se na afirmação de sua indicialidade e aderência a aspectos de um modo de vida localizável na experiência concreta da amizade. Esse fator levaria críticos como Charlotte Cotton (2010) a apontar a continuidade e o redirecionamento operado por Goldin no gênero da fotografia instantânea familiar ou doméstica (Ibidem, p. 137-9). Em posicionamento similar, autores como André Rouillé (2009) afirmaram que Goldin ampliou tal gênero ao incluir temas antes imprevistos, afrontando, assim, “os grandes relatos com as pequenas histórias de sua vida privada” (Ibidem, p. 359).
Ao lançar mão da fotografia como dispositivo preferencial, a proposta de sequencialização das imagens de seu acervo pessoal e a projeção das mesmas sob a forma de slideshows acompanhados por músicas, indica-nos não apenas a questão desse modo peculiar de jogar com/contra a lógica dos álbuns familiares, mas, sobretudo, à centralidade que a operação intermidiática ganha em seu trabalho. Convocada como possibilitadora da narração das experiências visadas, tal operação propõe novas relações de remediação entre cinema e fotografia. Torna-se, assim, fulcral na medida em que compõe agenciamentos das histórias exibidas e propiciam a abertura de novas camadas de sentido ao espectador, produzidas pelo atravessamento das fronteiras entre as mídias adotadas ou referenciadas. Por esse viés, a categoria de intermidialidade é convocada em nossa reflexão como uma categoria crítica para a observação da condição constitutiva e estratégica que permeia o objeto de estudo delineado. Rajewsky (2006), ao mapear diferentes perspectivas e usos dessa categoria, indica que a capacidade de uma mídia evocar elementos ou estruturas de outra, explorando o caráter “como se” das referências intermidiáticas, faz com que tal evocação não se realize apenas no campo referencial, mas como expansão dos modos de afecção do espectador. O conceito de remediação, recuperado pela autora a partir de Bolter e Grusin, é desenvolvido por esta no sentido de afirmar a capacidade de remodelação de qualidades, estruturas, práticas e técnicas próprias a determinada mídia na medida em que esta se relaciona e se apropria de outra mídias. Nesse sentido, a partir da produção de Nan Goldin, procuramos elaborar uma reflexão sobre as especificidades de seu modo de narrar, atreladas à constituição do diaporama no vértice do cinema e da fotografia. Ao passo que nos debruçamos sobre o caráter fronteiriço que as mídias ocupam na produção, buscamos observar de que maneira são explorados os interstícios entre fotografia e cinema em uma forma específica de fazer durar a imagem e de criar camadas de significação em seu encadeamento com outras fotografias e canções. Intentamos, ademais, relevar as referências cinematográficas que fazem do referido trabalho um “tecido de citações” (Barthes, 1997), mantendo afinidades evidentes com uma cultura fílmica geracional. Além de nomes de relevo como os de Andy Warhol e Paul Morrissey, compõem esse cenário Bette Gordon, Vivienne Dick e Lizzie Borden, grupo que propunha certa ruptura com a chamada narrativa fílmica estruturalista e procurava “fazer filmes mais baratos, mais acessíveis, mais ‘amigavelmente vistos’ e baseados em suas próprias vidas e experiências"(Sussman, 1996). |
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Bibliografia | BARTHES, Roland. O rumor da língua. São Paulo: Brasiliense, 1997.
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