ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Estigmas sociais e cinema de bordas: narrativas audiovisuais em filmes brasileiros |
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Autor | Rosana de Lima Soares |
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Resumo Expandido | A comunicação propõe articular os estigmas sociais aos filmes de bordas brasileiros, apontando interseções e reconfigurações presentes na cultura audiovisual contemporânea. Buscaremos apontar lugares de redundância ou ressonância por meio do reforço ou transposição de estigmas em filmes pertencentes ao “cinema de bordas” (Lyra & Santana, 2006; Santana, 2008). Os filmes serão analisados em suas recorrências a partir de três edições da Mostra Itaú Cultural Cinema de Bordas (2009, 2010, 2011), que reúne obras e realizadores de todo o país, apontando sua diversidade e contradições.
Nosso objetivo é contrastar os modos como os estigmas sociais se fazem presentes em filmes de bordas com aqueles articulados em filmes brasileiros contemporâneos, notadamente em enredos voltados para conflitos sociais. Ao legitimar seu lugar de fala em um determinado grupo social, supostamente periférico, os filmes de bordas transformam as figurativizações de preconceitos e estereótipos, sobretudo pela problematização dos enunciadores e co-enunciadores presentes nesses discursos, e pelas posicionalidades de sujeito a partir das quais tais discursos são proferidos. Dessa forma, os estigmas sociais parecem ser atenuados porque, supostamente, vemos os estigmatizados falando deles próprios, para eles mesmos, nos circuitos de criação e ressignificação de tais discursos. Um dos possíveis elementos constituintes dessa inversão é o humor, ou um efeito de comicidade, apontando para interditos (brechas e silêncios) e, assim, para um jogo ambíguo entre deslocamento e permanência de estigmas, já que ao mesmo tempo em que incluem novos interlocutores na cena audiovisual, apontam seu lugar deslocado por meio de elementos narrativos, estéticos e tecnológicos operando à margem dos sistemas tradicionais. Notamos a prevalência de uma temática nos discursos midiáticos: as complexas relações envolvendo a dinâmica do convívio entre cada um e todos os outros, e os conflitos daí decorrentes, indissociáveis da sociedade em que estão inseridos. As chamadas “figuras de alteridade” (Prado & Bairon, 2007) sinalizam pontos de confluência e de demarcação de estigmas sociais, pois é sempre em relação a um outro que os estigmas apontam suas especificidades. Espaço de rupturas e de continuidades, em sua maioria os filmes de bordas representam um tipo de produção audiovisual realizada em locais diversos e ainda pouco conhecida. Tais filmes são baseados em reapropriações de gêneros cinematográficos; temas do cotidiano; atuação de atores não-profissionais; improvisação de roteiros; e uma estética naturalista, sendo que seus realizadores produzem, dirigem, roteirizam e distribuem os filmes, com obras que dificilmente atravessam as grandes salas de projeção e, ao mesmo tempo, voltam-se a um público familiarizado com os filmes em seus locais de origem. Os filmes de bordas estabelecem, assim, consonâncias e dissonâncias com outros gêneros audiovisuais no que diz respeito aos estigmas, desmobilizando os vetores tradicionais de produção/recepção, e atualizando, com características locais, a perspectiva global pressuposta nas relações entre estabelecidos e estigmatizados. As bordas do cinema não se desvelam como um lugar estruturado entre centro e periferia, mas inscrevem-se no entremeio dos discursos que as conformam. Não nos deparamos, em filmes de bordas, com um discurso resignado ou conciliatório, mas com a emergência (no sentido de aparição e de necessidade) de um outro pacto de leitura (Eco, 2002) estabelecido entre autor, texto e leitor. Entre as narrativas audiovisuais que contribuem para confirmar ou criar novas imagens sobre os estigmas sociais, notamos diferentes encenações de temáticas e personagens; ausências e presenças inscritas na narrativa; e demarcações de identidades e alteridades. Os espaços de reforço e/ou transposição de estigmas, bem como os lugares ocupados e as possibilidades de deslocamento dos sujeitos, serão tomados como pontos articuladores dos filmes. |
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Bibliografia | BAKHTIN, M. A cultura popular na Idade Média e no Renascimento. São Paulo: Hucitec, 1987.
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