ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Vida e arte: original ou cópia, real ou representação em Copie Conforme |
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Autor | Denise Costa Lopes |
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Resumo Expandido | “Nos enfrentamos (...) con problemas de duplicidad y virtualidad, que han de ser resueltos antes de que podamos reclamar o re-crear una noción persuasiva de autenticidade”(SCHWARTZ, 1998). A preocupação de Hillel Schwartz parece análoga à problematização acerca dos conceitos de autenticidade, identidade e originalidade em Copie Conforme (2010), de Abbas Kiarostami. Ao igualar arte e vida na produção de sentido e em recorrentes questões de origem, reprodução, real, representação, autoria, simulacro..., o diretor dialoga com teorias filosóficas antológicas, como as propostas por Walter Benjamin, Jean Baudrillard e Schwartz.
Numa das muitas sequências bem estruturadas, Kiarostami constrói um discurso sobre uma escultura sem mostrá-la por inteiro. Ela é descrita minuciosamente pela personagem feminina. Elle (pronome francês ela) nos deixa saber que ali há a figura de uma mulher que repousa no ombro de um homem protetor. Porém, por mais que o espectador anseie vê-la, Kiarostami oferece apenas pequenos recortes de sua composição. A câmera a rodeia pela base, frente, costas, mas a entrevemos apenas por breves frestas. Escondida, chama mais atenção. O momento em que mais a entrega, a desvela por uma imagem refletida num espelho retrovisor de uma moto. Uma imagem que é reprodução, da reprodução, da reprodução... Kiarostami nos quer assim. Leitores atentos de imbricados processos de representações. E estrutura o filme sem nos deixar ver quase nada, apesar de suscitar todo tempo desejo de visualização das referências afetivas citadas por seus personagens. Assim contribui com o mistério. Ali há uma escultura ou não? Ela é real ou não? Incerteza completada por cada um de nós, não sem uma certa inquietação. “Se queremos que o cinema seja considerado uma forma de arte maior, é preciso garantir-lhe a possibilidade de não ser entendido (...) É preciso antecipar um cinema 'in-finito' e incompleto, de modo que o espectador possa intervir para preencher os vazios, as lacunas. A estrutura do filme, em vez de sólida e impecável, deveria ser enfraquecida (...) Talvez a solução adequada consista em estimular os espectadores a uma presença ativa e construtiva. Por isso, estou meditando a respeito de um cinema que não faça ver (...) Estou tentando entender o quanto se pode fazer ver sem mostrar” (KIAROSTAMI, 2004). Ao traçar uma não-narrativa e alternar papéis pelos atores, Kiarostami, um recriador do neorealismo italiano, que elege a Toscana para produzir seu primeiro filme fora do Irã, nos faz coautores da obra, onde nem cópia, nem original, têm valor em si. Este residiria no olhar, na memória, no que cada um agrega. O casal, antes desconhecido, volta aos locais onde casaram e se amaram pela primeira vez, como a copiar o amor inicial, como a buscar algo perdido. Mas a memória destes fatos é diferente para cada um, como a duvidar de uma unicidade, de uma origem, como a nos lembrar que na vida ou na arte só veremos, sentiremos, gozaremos com o que para nós fizer sentido. Kiarostami parece assim confrontar Benjamin. Ele “pensava que a fotografia destruísse a ‘aura’, por obra de sua reprodutibilidade infinita, em contraste com a ‘unicidade’ necessária à sua manifestação” (KIAROSTAMI, 2008, p.97). E reafirmar ideias de Schwartz, para quem Benjamin "no acertó al decir que, con la réplica, el original ha perdido su aura (...) Lo que se debilita en la era de la reproducción no es la aura de las obras de arte, sino la seguridad de nuestras propia vitalidad (...) Lo que entedemos por ‘original’ hoy día es lo que nos habla de maneira immediata, una esperiencia que creemos haber perdido entre nosotros los humanos.” (SCHWARTZ, p.132). Recuperar essa experiência talvez seja o desejo de Kiarostami. Para isso, denuncia seu filme como representação, reprodução, cópia que se constrói a partir de leituras múltiplas de seus interlocutores. Reafirma assim a essencialidade do próprio meio capaz, talvez, de trazer alguma originalidade, identidade e autenticidade a este. |
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Bibliografia | BAUDRILLARD, Jean. A arte da desaparição. Rio de Janeiro: UFRJ, 1997.
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