ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | A encenação do corpo em A Bela intrigante, de Jacques Rivette |
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Autor | Milton do Prado Franco Neto |
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Resumo Expandido | Esta apresentação tem como objetivo lançar uma nova luz sobre o filme A Bela Intrigante (1991), de Jacques Rivette, a partir da análise da encenação dos corpos dos atores/personagens. As conclusões aqui apresentadas derivam da pesquisa feita para a dissertação de mestrado de título La mise en scène du corps dans La Belle noiseuse (1991), de Jacques Rivette, realizada para o mestrado em Estudos Cinematográficos (M.A. in Film Studies) da Universidade Concordia (Concordia University, Montreal, Canadá).
Jacques Rivette, um dos nomes fundamentais do movimento cinematográfico conhecido como Nouvelle Vague, permanece como um dos cineastas menos populares e estudados deste grupo. Ao longo de quase 50 anos de carreira, o ex-crítico da revista Cahiers du Cinéma dirigiu pouco mais de 20 filmes – média bastante inferior à de seus parceiros de crítica da que se aventuraram em seguida na realização, como Jean-Luc Godard e Claude Chabrol. Algumas análises já foram feitas sobre a evidente relação entre seus filmes e o teatro, quase sempre ressaltando algumas características consideradas mais ou menos herméticas: a duração longa, as sociedades secretas, uma certa tendência ao experimentalismo etc. Poucos trabalhos se detiveram, no entanto, a um estudo aprofundado de um de seus filmes mais bem-sucedidos, A Bela Intrigante (La Belle Noiseuse, 1991). Nesta obra, Rivette adapta uma novela de Honoré de Balzac (Le chef-d’oeuvre inconnu), que trata da relação entre um pintor e sua modelo, durante alguns dias, em busca da obra-prima desconhecida. Da interação entre os dois, muitas vezes vinda do conflito, nascerá a pintura. Poucos filmes da história do cinema souberam expressar (e não somente ilustrar) o perigoso tema do ato de criação, dedicando boa parte de sua longa duração (3h56min) à própria ação do pintor. E mais do que em qualquer outro filme de Rivette, A Bela Intrigante transforma em matéria fílmica a questão do corpo do ator, das possibilidades de representação e de encenação deste corpo. Através do curto-circuito entre cinema, pintura, literatura e teatro, Rivette manifesta em filme idéias que lhe acompanham desde sua época de critico, nos anos 1950, e lança questões sobre a presença do ator que ressoam ainda hoje em dia em um certo tipo de cinema: como filmar um corpo? O que é possível de extrair do corpo de um ator? O presente trabalho parte da evolução histórica do termo encenação (mise en scène, no original francês), da sua aplicação no teatro até a apropriação particular no cinema empreendida pelos críticos da Cahiers du Cinéma, passando sobre algumas idéias de encenação do corpo na pintura. Essa historiografia de um termo nos permite então analisar algumas características estilísticas de A Bela Intrigante e ver como a encenação do filme relaciona-se com os movimentos de câmera e a montagem. Desse modo, é possível também fazer breves comparações entre este filme e outros trabalhos anteriores do realizador, tentando entender especificamente o que é a encenação de um corpo para Jacques Rivette, questão que sempre foi primordial em sua obra. Alguns conceitos propostos por autores tais quais Maurice Merleau-Ponty e Gilles Deleuze nos permitem também aprofundar o entendimento dessa encenação. |
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Bibliografia | AUMONT, Jacques. Le cinéma et la mise en scène. Paris: Armand-Colin, 2006.
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