ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | O Cinema no Correio da Manhã (1926-1927) |
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Autor | Isabella Regina Oliveira Goulart |
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Resumo Expandido | Embora os estudos de Cinema no Brasil privilegiem a análise estética de uma obra ou de um grupo de filmes de determinado cineasta ou período histórico, alguns trabalhos acadêmicos voltaram-se às revistas de fãs brasileiras. Entre as pesquisas que analisaram a relação entre nossas revistas e o star system norte-americano estão os trabalhos de Paulo Emílio Salles Gomes – “Humberto Mauro, Cataguases, Cinearte”, de 1974, que destaca a fotogenia, essencial ao estrelismo, como um elemento fundamental ao sucesso dos filmes e ao qual Cinearte conferia grande importância já nos anos 1920 – e Ismail Xavier – “Sétima Arte: Um Culto Moderno”, de 1978, que assevera os apontamentos de Salles Gomes e atesta a transformação da fotogenia por Cinearte de atributo poético em conceito epidérmico de beleza, associado a luxo, higiene, juventude e boa aparência, elogiando a “lei dos tipos” de Hollywood. As dissertações de Eliana Queiroz, “Cena Muda como Fonte Para a História do Cinema”, 1981, e Margarida Adamatti, “A Crítica Cinematográfica e o Star System nas Revistas de Fãs: A Cena Muda e Cinelândia (1952-1955)”, 2008, ambas da USP, e a de Taís Campelo Lucas, “Cinearte: O Cinema Brasileiro em Revista (1926-1942)”, 2006, da UFF, constituem outros exemplos.
A essência do fenômeno das estrelas são suas imagens que precisam ser construídas, pelos filmes e, igualmente, pela indústria da mídia, nas dimensões extratextuais de entrevistas, fofocas e publicações na imprensa. Isto depende de uma cultura midiática poderosa e extremamente elaborada. Promovendo o conceito da boa vida, em que se pode obter tudo o que se deseja e se é sexualmente desejável, as estrelas historicamente personificaram o poder transformador do consumo e pautaram a participação da sociedade nessa cultura mais ampla. Assim, ao longo do século XX também a cultura do consumo esteve interligada ao entretenimento e ao estrelismo. Segundo Ismail Xavier (op. cit.), o crescimento do mercado e o grau de organização dos negócios cinematográficos no Brasil na década de 1920 tornaram favorável o aumento do número de revistas. Neste contexto, as agências americanas lhes forneceram entrevistas, reportagens, artigos, fotografias promocionais dos artistas e fofocas sobre suas vidas privadas, incentivando a contribuição das publicações nacionais especializadas em cinema – que seguiam o modelo da Photoplay, a mais importante fan magazine norte-americana da época – para o studio system. Nossas revistas eram bem vindas ao sistema, na medida em que poderiam alimentá-lo na periferia. Por conseguinte, a busca por pesquisas realizadas no Brasil sobre a cobertura da mídia impressa ao fenômeno do estrelismo nos conduzirá a trabalhos que mapearam esta relação nas revistas especializadas em cinema. Todavia, inexiste nos debates acadêmicos uma discussão acerca do impacto do star system hollywoodiano em nossos jornais, cuja cobertura ao cinema naturalmente se distingue daquela das revistas de fãs. Em vista disso, nossa proposta de trabalho tem por objetivo voltar-se a um tipo de publicação cuja cobertura ao cinema ainda não foi mapeada, mas que indica também à participação destes periódicos num sistema de colonização cinematográfica. A mídia impressa nacional não foi apenas receptora/divulgadora do star system norte-americano, mas um agente nesta nossa colonização cinematográfica. A cobertura ao cinema no Correio da Manhã, jornal escolhido para nossa análise, esteve concentrada durante os anos de 1926 e 1927 na seção diária “Telas e Palcos”, em que pequenas notas sobre filmes em cartaz e acontecimentos do mundo cinematográfico dividiam espaço com as produções teatrais (embora anúncios e pôsteres dos filmes, notadamente os de Hollywood, aparecessem em todas as seções). Aos domingos, era publicada a seção “No Mundo da Tela”, com reportagens mais extensas sobre as estrelas de Hollywood, geralmente ilustradas, trazendo fofocas sobre suas vidas privadas ou textos moralizantes cujo conteúdo procurava humaniza-las. |
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Bibliografia | BASINGER, Jeanine. The Star Machine. Nova York: Alfred A. Knopf, 2007.
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