ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Cinema e educação - confluências entre cultura audiovisual e infância |
|
Autor | Clarissa Nanchery |
|
Resumo Expandido | Este trabalho visa perceber o universo cinematográfico enquanto elemento de força social, cultural e cognitiva, capaz de sugerir alterações na percepção do mundo, na aprendizagem e nas trocas simbólicas. Munidos desta certeza, objetivamos analisar e incrementar o campo teórico de cinema e educação em busca do desenvolvimento e aprimoramento de propostas que incentivem discussão e prática de atividades audiovisuais voltadas para a infância. Para isso, abordaremos o projeto “Lanterna Mágica” – uma iniciativa pessoal que desenvolve a linguagem cinematográfica para crianças de até seis anos de idade, no município de Niterói–RJ como uma ação possível de reflexão.
Nossa abordagem procura compreender o cinema não apenas na sua dimensão instrumental para a educação, mas considerando-o como o próprio objeto da intervenção educativa. Acreditamos que as peculiaridades que o envolvem o cinema enquanto expressão artística apontam para a alteridade (BERGALA, 2008), para a desconstrução de códigos pré-concebidos, para a fruição, para ampliar o repertório cultural e para, finalmente, fomentar a capacidade inventiva das crianças. Procuramos perceber que no cinema sempre habita uma nova experiência a ser descoberta e que frequentemente poderemos nos deparar com criações ainda mais questionadoras e surpreendentes. Há sempre a possibilidade, nas palavras de Ismail Xavier, de “um pensar e fazer cinema que reivindica o direito a experimentar negado pela indústria, que convoca a uma ampliação da aventura da nova percepção, sem as amarras do código vigente”. (2003: 12). Interessa-nos descobrir os elementos de aproximação do espectador com o cinema, em especial o espectador infantil. Procuramos evidenciar que a cultura audiovisual, sendo a mais próxima da maioria da população e das crianças, deve ser explorada de forma diversificada e é preciso nos aproveitar desta relação já estabelecida. Não existe um processo de formação necessário para ensinar as pessoas a assistirem filmes, programas de TV, desenhos animados. O universo audiovisual já está mais do que incorporado em nosso cotidiano, então é preciso ampliar a diversidade e o entendimento que as pessoas têm sobre este meio para que possamos perceber o seu potencial educativo. Buscamos analisar e incrementar as propostas de incentivo a produção de atividades audiovisuais voltadas à educação infantil, pois entendemos que a produção implica a participação crítica e criadora de crianças. Nos apropriamos das reflexões tecidas por Alain Bergala resumindo nossa hipótese de forma bem simplificada: o contato com o fazer cinematográfico faz a criança “tornar-se um espectador que vivencia as emoções da própria criação” (2008: 35). Acreditamos que, ao aproximar-se dos dispositivos de criação, o indivíduo torna-se muito mais do que um espectador crítico, há um encorajamento para dissecar um universo de possibilidades infindáveis, este universo que pode lhe ser distante ou apresentado de forma superficial abre-se a descobertas mais aprofundadas. Sabemos também que os professores e as escolas necessitam de novos rumos, a educação formal cartesiana não suporta mais as demandas que surgem em meio às tecnologias, à cultura midiatizada, regida pelo espetáculo, é preciso, de fato, repensar de que forma a escola pode se apropriar destes novos saberes. A experiência na realização do Projeto Lanterna Mágica nos leva a perceber que é possível introduzir novos sentidos ao social e novos usos sociais dos meios (BARBERO, 2003) e nos arriscamos em dizer que ações como essas nos levam a pensar que é possível resistir a significados dominantes criando sua própria leitura e seu próprio modo de apropriar-se da cultura. Mesmo com todas as limitações, já é notório que crianças muito pequenas fazem um novo recorte do mundo, estão mais atentas às possibilidades, aguçadas e interessadas na sua percepção. A inventividade ganha espaço nas produções que realizam e a mágica do cinema ganha espaço na escola. |
|
Bibliografia | AUMONT, Jacques. A imagem. Campinas: Papirus, 2006.
|