ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | O “Cinema Impopular” segundo Pier Paolo Pasolini |
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Autor | Flavio Kactuz (Flávio C. P. de Brito) |
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Resumo Expandido | Pretendo com este trabalho analisar o texto “Il Cinema Impopolare” escrito por Pier Paolo Pasolini (1922-1975), publicado pela primeira vez no número 20 da revista Nuovi Argomenti de outubro-dezembro de 1970, com o intuito de evidenciar uma determinada mudança em sua trajetória artística, ocorrida desde Gaviões e Passarinhos (Uccellacci e Uccellini, 1966), acentuada em Teorema (1968) e Pocilga (Porcile, 1969) e levada aos seus extremos em Saló, ou 120 dias de Sdoma (Salò, o 120 giornate di Sodoma, 1975), sua obra, ainda hoje, de mais difícil aceitação.
Nesta direção, Salò poderia ser compreendido como um radicalismo extremamente refinado de questões essenciais e muito anteriores, ao contrário de um certo consenso que considera este filme como um elemento estranho ou extraordinário no conjunto de sua filmografia. O texto “Cinema Impopolare”, assim como outros relevantes ensaios publicados nos livros Empirismo Eretico (1972), Scritti Corsari (1975) e Lettere Luterane (1976), revela, com insistência, um impasse entre a autonomia do artista, a experimentação de uma estética pessoal, e a pressão cada vez maior de um mercado que impõe sua lógica de oposição a estes princípios, priorizando atingir um público quantitativamente maior e o mais heterogêneo possível. Para resolver a esta difícil e antiga equação, Pasolini propunha um caminho radicalmente pessoal em direção a um “Cinema Impopular”, destinado a um público bastante restrito. Este reposicionamente já havia sido enunciado em 1965 durante o Festival de Pesaro, quando apresentou pela primeira vez, a proposta de um “Cinema de Poesia”. Entretanto, foi depois das revoltas estudantis e todos os desdobramentos de 1968, aos quais sempre se colocou contrário, que suas idéias começaram a adquirir uma radicalidade ainda maior sobre o tipo de público destinatário de seus filmes. A partir desta época passou a afirmar que todo o movimento contracultural teria acentuado ainda mais a hegemonia de um saber tecnicista, de ordem prática, substituindo um legado cultural clássico e de maior profundidade. O conceito de cultura popular passou a não ter o mesmo significado da juventude do poeta nas regiões de Friuli em Casarsa, ou nas borgate romanas. O propósito de produzir obras populares, se tornou impróprio e absurdo. Pasolini escreveu o artigo “Il Cinema Impopolare” quando convidado a desenvolver algo em torno ao tema “Libertà dell’autore e liberazione degli spettatori .” Iniciou o artigo descrevendo o que para ele seria o verdadeiro significado da palavra “liberdade”: “Dopo averci ben pensato ho capito che questa parola misteriosa non significa altro, infine, nel fondo di ogni fondo, che ...‘libertà di scegliere la morte’”. (PASOLINI, 2000: 269). Esta junção entre morte e liberdade encontra suas afinidades em toda a obra de Pasolini, de Accattone à Salò, em seus aspectos trágicos, épicos e religiosos e não deixa de estar relacionada à sua visão escatológica do mundo. Dando continuidade ao texto afirmará que esta morte/ liberdade deveria ser alcançada através de um martírio. Este martírio assumiria um aspecto heróico e redentor de um mundo decadente, ao qual o artista, em sua condição de autor, deveria assumir seu papel na transgressão dos códigos e das normas impostas, mesmo que isso significasse colocar em risco seu instinto de autopreservação. Ao transgredir um código, realiza um ato escandaloso, ao qual irá se expor ao ridículo, à desaprovação, à suspeita, à solidão e até mesmo a admiração de raros espectadores.Muito além de sua terra conhecida. “un autore non può che essere un estraneo in una terra ostile .” (PASOLINI, 2000:270) O verdadeiro autor seria aquele que vive sob a sombra de Tânatos. Creio que este texto pode ser uma pertinente chave de releitura para Salò, uma obra ainda dispersa na filmografia deste autor, além de oferecer uma análise sobre uma determinada forma de se pensar e fazer Cinema bastante distanciada dos dias atuais. |
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Bibliografia | BARTHES, R. Sade, Fourier, Loiola. Lisboa: Edições 70, 1979
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