ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Cinema e emoções: ferramentas de análise fílmica |
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Autor | Emília Maria da Conceição Valente Galvão |
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Resumo Expandido | No início do século XX, o psicólogo Hugo Münsterberg já defendia que o principal objetivo do cinema era retratar emoções. Cerca de um século depois, a trilha deixada em aberta pelo teórico pioneiro vem sendo retomada por pesquisadores da Inglaterra, Estados Unidos e Alemanha. Vinculados a uma orientação cognitivista, tais autores se valem do diálogo com campos como a Psicologia e mesmo a Neuropsicologia para estudar de modo mais sistemático como operam as estratégias que os filmes empregam para nos engajar afetiva e efetivamente.
No Brasil, porém, a literatura cognitivista sobre as emoções fílmicas permanece praticamente ignorada. Uma das razões para isto pode estar na postura polêmica adotada por seus autores (ver, por exemplo, Carroll, 1988). Críticos dos estudos de orientação semiótica-psicanalítica, os cognitivistas realizam leituras muitas vezes reducionistas e questionáveis dos conceitos deste campo. Para além das controvérsias, porém, já é tempo de tentar compreender melhor o que de concreto os cognitivistas têm a propor para o estudo das relações entre cinema e emoções. O presente artigo é resultado de uma pesquisa que se propôs a efetuar uma leitura crítica desta literatura. Desenvolvida no âmbito do mestrado em Comunicação e Cultura Contemporâneas da UFBa a pesquisa investigou os modelos teóricos de autores como Noël Carroll, Murray Smith e Carl Plantinga com a intenção de identificar insights e formulações úteis à realização de exercícios de análise centrados prioritariamente no desvendamento no percurso emocional que, acreditamos, todo o filme de algum modo oferece ao espectador. Como resultado deste trabalho, foi montado um roteiro com diretrizes de análise. O objetivo desta comunicação é apresentar este roteiro, a partir de extratos de análises dos filmes Dançando no Escuro (Dancer in the Dark, 2000), de Lars von Trier e A Liberdade é Azul (Bleu, 1993), de Krzysztof Kieslowski. Um insight importante para a nossa proposta é a idéia de que os filmes constroem trajetórias afetivas (Plantinga, 2009) para conduzir a apreciação. Para mapear estas trajetórias, observa-se os tipos de afeto que cada filme busca evocar; o modo como a intensidade deste apelo afetivo varia ao longo da projeção, se estes afetos são prazerosos ou desprazerosos (negativos ou positivos) e que função exercem na narrativa. Para isso, as análises realizadas partem de dados sobre a recepção (relatos de pesquisadores, críticos e espectadores coletados em blogs e sites) e tentam compreender como estas reações se tornaram possíveis a partir do texto fílmico. Uma atenção especial foi dada á questão da construção do engajamento em relação ao personagem (SMITH, 2004). As obras de nosso corpus acompanham de modo quase exclusivo a trajetória de protagonistas femininas, e as análises demonstram como em ambos os filmes há um apelo progressivo às respostas de empatia, que visam levar o espectador a compreender emocionalmente a personagem. Outra vertente da análise voltou-se para o modo como recursos estilísticos foram usados para criar efeitos sensoriais que influenciam as nossas reações afetivas. ao promover a sensação de que compartilhamos a experiência emocional do personagem. Para completar, a idéia de uma retórica da emoção (Plantinga, 2009) ajudou a lançar luz sobre o sentido que a convocação da emoção assume em cada filme. Ou seja, como o apelo afetivo se relaciona com as formas de pensar e valorizar encorajadas pelo filme. Em Bleu, o modo sutil com que a narração convoca o envolvimento do público é uma face da retórica humanista que orienta o trabalho do diretor polonês. Já em Dancer in the Dark, von Trier dirige uma provocação à platéia, zombando ao mesmo tempo dos truques de que as narrativas se valem para comover e do pudor dos que vêem com desconfiança aquele que talvez seja o mais poderoso recurso à disposição do cinema: sua capacidade de emocionar. |
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Bibliografia | CARROLL, Noel. Mystifying Movies: Fads and Fallacies in Contemporary Film Theory. New York: Columbia University, 1988.
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