ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Sobre o olhar como ação (em alguns filmes contemporâneos) |
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Autor | Juliano Gomes |
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Resumo Expandido | Proponho aqui pensar algumas idéias iniciais a partir do livro “O Espectador Emancipado” de Jacques Ranciere: um lugar para o espectador no cinema que não seja da suposta passividade e nem da saída dela, na medida em que a suposição da distância, da separação de condição, entre obra e espectador não cessa de somente aumentar ainda mais este desnível que só intensifica a suposta desigualdade onde o artista/autor se encontra num nível "superior" criação do espectador-aprendiz, em relação ao que há para ver, saber e dizer sobre a obra. Para isso é preciso dissolver certas oposições entre olhar e ação, passividade e atividade, aparência e essência, no sentido que deram a esses pares pensadores da arte do século XX como Antonin Artaud e Bertolt Brecht. O propósito deste estudo inicial é pensar tais idéias através de alguns filmes contemporâneos que colocam em cena algumas configurações deste dilema, encenando seus riscos, tensões e posições variadas.
É preciso repensar a premissa onde a arte procura desvendar para o espectador seus pressupostos "segredos atrás da tela" onde o artista precisa assumir sua posição dentro da obra, explicando para quem vê qual é sua função para além das “aparências”. E também colocar em perspectiva a aparente "mitificação" do espectador ativo, que atua diretamente na obra, modificando-a diretamente, interagindo, mudando seus rumos, crença essa asbolutamente contemporânea, e que acaba por partir do mesmo pressuposto de separação de condição entre quem faz a obra e quem vê, como se a igualdade não fosse sua condição a priori (e também a de toda relação entreo que se sabe e o que se ignora). Neste sentido, além do referencial principal do pensamento de Ranciére que funciona como eixo principal, analisarei também a leitura que Georges Didi-Huberman faz do pensamento de Brecht em relação às possibilidades da arte e dos espectadores hoje, sua posições, disposições limites, recuperando a obra de artista alemão principalmente a partir das idéia de montagem, distância e posição. E estendendo essas estratégias de composição a outros domínios, como o cinema e as artes em geral. Para fazer este caminho, os flmes “Shirin” (Abbas Kiarostami, 2007), “Filme Socialismo” (Jean Luc Godard, 2009), “Pacific”(Marcelo Pedroso, 2009), “Aterro do Flamengo” (Alessandra Bergamaschi, 2010) e “Um dia na Vida”(Eduardo Coutinho, 2010) funcionarão como ferramentas para discutir essas idéia de uma posição do espectador como criador e suas inflexões em oposição a essa crença na sua posição de aparente desvantagem em relação ao artista. O filme de Kiarostami como uma investigação do lugar do espectador como um lugar de reflexão, ação e criação, em um incessante jogo de trocas e espelhamentos . Tal obra de Godard como uma espécie de autocrítica de um autor que percebeu esta transição do lugar do artista em relação ao espectador na contemporaneidade e a tematiza bastante diretamente neste grande ensaio fílmico, encenando sua própria impossibilidade como afirma o crítico Fábio Andrade em sua crítica sobre o "Filme Socialismo". Já Marcelo Pedroso, a partir de elementos muito próximos do filme de Godard, põe em cena elementos que já configuram uma ruptura com o modelo do pressuposto da separação de condição entre o artista-mestre e o espectador-aprendiz, assim como faz também o filme mais recente de Eduardo Coutinho, que de alguma maneira simula este espectador que intervém na imagem da televisão e a recria incessantemente. E por último, o média-metragem de Alesssandra Bergamaschi, que aborda de maneira muito direta o ato de olhar como encenação e como produtor de novas encenações e associações na espaço da cena e da vida. |
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Bibliografia | ANDRADE, Fábio. À Frente. http://www.revistacinetica.com.br/filmsocialisme.htm
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