ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Filme de Amor: do erótico à carne |
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Autor | Adriano Carvalho Araújo e Sousa |
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Resumo Expandido | As Três Graças são consideradas um signo em séries pictóricas que Júlio Bressane aborda segundo o processo de transcriação para o cinema. Haroldo de Campos traz duas definições que manipulo aqui. Na primeira, o procedimento de traduzir o intraduzível consiste em verter a forma do original; na segunda, momento das transluciferações e da implosão da forma, coloca-se a perspectiva de exceder “os lindes de sua [linguagem], estranhando-lhe o léxico, [...] até que o desatine e desapodere aquela última hybris [...] que é transformar o original na tradução de sua tradução” (CAMPOS, 1977). Aqui, não há o original, mas uma subversão que aponta para traduzir o não formalizável das Três Graças, ou seja, num diálogo com outro teórico, trata-se de traduzir o ritmo (MESCHONNIC, 2010).
Discuto o processo de transcriação para o cinema através de dois elementos: a implosão da forma através da fotografia estourada; e a desmesura do corpo, convite à descida aos infernos, à transluciferação como encenação da aventura diabólica do artista, que no gestual das Três Graças e das pinturas de Balthus apontam para uma transfiguração da experiência do sofrimento. A fotografia estourada incide sobre o próprio corpo dos personagens, não está ali para significar a aridez do sertão, como estava para o cinema novo. A luz é o próprio corpo de Filme de Amor, despersonalização radical que estabelece a travessia de todas as etapas do erótico à carne (DELEUZE, 2007). Deseja-se algo da carne que enseje uma transfiguração e interrogar o que pode o corpo. Textos, ruídos e as três músicas do filme são montados como se fossem imagens, dissociados, não constituem um comentário. Os movimentos da câmera permitem debater o travelling como sintaxe da transcriação e marcam a leveza e a dança das divindades. Os tableaux vivants das Três Graças e das pinturas de Balthus destacam o gestual e a textura pictórica dessas imagens figurativas. O ritmo é dado por um trabalho com a luz da pintura. A construção em abismo, seja com a Origem do Mundo de Courbet ou o vagão de trem vazio, evoca metamorfoses de um corpo, ele próprio, abismo sem ancoragem. |
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Bibliografia | CAMPOS, Haroldo. Luz: A Escrita Paradisíaca. In: ALIGHIERI, Dante. 6 Cantos do Paraíso. Tradução de Haroldo de Campos. Rio de Janeiro: Editora Fontana/ São Paulo: Istituto Italiano di Cultura, 1977.CONVERSA com Júlio Bressane, Miramar, Vidas Secas e o Cinema no Vazio do Texto. Cinemais, n. 6, jul. ago. 1997. Gilles Deleuze. Lógica da Sensação. Tradução brasileira sob a coordenação de Roberto Machado. Rio de Janeiro: Zahar, 2007). PIRES FERREIRA, Jerusa. Os Trabalhos da Luz. São Paulo: Memorial da América Latina, 2006. MESCHONNIC, Henri. Poética do Traduzir. Tradução brasileira de Jerusa Pires Ferreira e Suely Fenerich; organização de Jerusa Pires Ferreira, São Paulo: Perspectiva, 2010. |