ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Arte e tecnologia: um olhar flusseriano sobre o cinema de animação |
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Autor | Carla Schneider |
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Resumo Expandido | Entre 1928 e 1929, o pintor belga René Magritte pintou um quadro que chamou de La trasison des imagens (A traição das imagens), no qual há um cachimbo e a frase "Ceci n'est pas une pipe" (Ele não é o cachimbo). Embora possa parecer paradoxal, a intenção de Magritte era anunciar que ali não havia, efetivamente, um cachimbo e sim uma representação dele. Nesta mesma linha de raciocínio, Alfred Korzybski, cientista e filósofo polonês, em 1931, afirma que “o mapa não é o território” e, portanto a imagem seria um mapeamento do que pretende representar. O que há em comum nas ocorrências mencionadas é o fato de estabelecerem a relação diferencial entre a realidade e a sua representação, isto é, destacando que as imagens atuam como mediação da relação do homem com o mundo. Esta reflexão constitui um dos alicerces nos estudos de Vilém Flusser (2007) quando desenvolve a teoria crítica sobre questões sócio-culturais observadas através da proliferação das imagens técnicas. Segundo este autor, as imagens técnicas originam-se da operação de aparelhos, como a máquina fotográfica e o computador e estão de tal maneira inseridas na vida cotidiana que acabam não sendo mais percebidas como mediação. O resultado é o surgimento da alienação humana, circunstância que Flusser nomeou de idolatria, ou seja, a apropriação das imagens como se elas fossem o mundo em si, ao invés de se valer das imagens para interpretar o mundo. A idolatria, mesmo que temporariamente e intencionalmente consentida, faz parte da relação do homem com as imagens fílmicas. Vale lembrar que “as imagens são superfícies que pretendem representar algo” (FLUSSER, 2009, p.1) e, portanto, são dotadas de uma intenção, são compostas por códigos e materialidades das mais diversas ordens, formatos e técnicas. Elas podem ser do tipo tradicional, resultando da representação de um artífice que utiliza instrumentos e materiais do seu entorno (como as pinturas rupestres e esculturas, por exemplo), ou técnicas, quando a habilidade artística está atrelada obrigatoriamente a aparelhos e aparatos tecnológicos, como a máquina fotográfica e o computador (FLUSSER, 2009). Aproximando-se desta abordagem, Lev Manovich (2001) desenvolve uma teoria das imagens advindas da linguagem das novas mídias, considerando a total dependência não somente dos aparelhos/máquinas mas também de seus softwares (programas) a ponto de criar um grupo de pesquisa, o Software Studies. Aliás, ao pensar nas imagens técnicas originadas em máquina e seus respectivos programas revive-se a metáfora flusseriana da caixa preta, através da qual lida-se com inputs e oupts mas não se tem acesso aos processos de codificação imagética. Isso fica evidente quando alguns filmes disponibilizam cenas ou imagens dos seus bastidores da produção (making of) sobre as quais verifica-se os inputs (entrada ou captura de dados) que, ao serem processados nos softwares, geram imagens intrigantes que auxiliam de maneira determinante na narrativa fílmica. É nesta perspectiva que este artigo foca a sua reflexão, investigando possibilidades a partir das imagens de making of, consideradas como elementos documentais que geram pistas para um possível entendimento sobre a criação de imagens sintéticas animadas. Estas, por sua vez, são geradas totalmente em ambiente computacional valendo-se de superfícies da animação que resultam da combinação entre aparatos tecnológicos com plataformas de programas (softwares) aptos a concretizar toda uma codificação imagética nos filmes animados da atualidade. |
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Bibliografia | AUMONT, Jacques; MARIE, Michel; VERNET, Marc; BERGALA, Alain. A estética do filme. Campinas: Papirus, 2005.
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