ISBN: 978-85-63552-11-2
Título | Cinema. Comentário do dia: Luiz de Barros no Diário Trabalhista |
|
Autor | Luís Alberto Rocha Melo |
|
Resumo Expandido | Entre maio de 1946 e janeiro de 1947, o cineasta Luiz de Barros manteve a coluna Cinema. Comentário do Dia no jornal carioca Diário Trabalhista, fundado em 1945. O objetivo da presente proposta é analisar os temas trazidos à tona por Luiz de Barros em sua coluna diária, e verificar a maneira como a sua visão particular acerca das questões atinentes à produção de filmes, à exibição, à técnica e à estética, dialogavam com o cinema brasileiro daquele período.
Luiz de Barros foi um dos mais longevos realizadores de filmes no Brasil. O início de sua carreira como diretor se dá em 1915, após uma temporada na Europa para estudar Belas Artes, quando teria frequentado os estúdios da Gaumont, em Paris, e se familizarizado com a técnica cinematográfica mais avançada. De 1915 a 1977, Luiz de Barros realizou cerca de 60 filmes de longa-metragem. Seu último trabalho, Ele, ela, quem? (1977), comédia sobre hermafroditismo, foi realizado quando Luiz de Barros já contava seus 84 anos. Luiz de Barros escreveu para a coluna Cinema. Comentário do dia durante um breve período de transição em sua carreira. Vindo de uma bem-sucedida parceria com a Cinédia S.A., para a qual Luiz de Barros realizou filmes como O jovem tataravô (1936), Tereré não resolve (1937) e seu maior sucesso de crítica, o drama O cortiço (1945), adaptação do romance de Aluízio Azevedo, o cineasta tinha acabado de realizar um sucesso de bilheteria, a comédia musical Caídos do céu (1946), com Dercy Gonçalves e Walter D’Ávilla, filme que selaria o fim da produção associada com os estúdios de São Cristóvão (Agüenta firme Isidoro e Anjo do lodo, realizados em 1951, foram produções de Adhemar Gonzaga; a Cinédia já se encontrava, naquele momento, fechada). Interrompendo a parceria com a Cinédia, associou-se a produtores-cotistas como Araújo Filho e Cláudio Luiz nos filmes O malandro e a grã-fina e Cavalo 13 (ambos de 1947), e, em seguida, desenvolveu parcerias com exibidores e distribuidores, realizando, entre 1948-9, Fogo na canjica com o exibidor paulista Paulo Sá Pinto, e Esta é fina, Pra lá de boa e Eu quero é movimento com Luiz Severiano Ribeiro Jr., através da distribuidora União Cinematográfica Brasileira (UCB). Os anos de trabalho na Cinédia e a posterior associação com os exibidores-distribuidores, empreendida no momento em que o Estado aumentava a obrigatoriedade de exibição de filmes nacionais de um para três longas-metragens por ano (decreto 20.493/46), credenciavam Luiz de Barros a falar com conhecimento de causa sobre os temas tratados em sua coluna no Diário Trabalhista. Assim, o cineasta escreve sobre formas de produção, diferenciando as práticas amadoras daquelas empreendidas por produtores e estúdios; discute, já em 1946, a produção independente em Hollywood; acompanha atentamente as movimentações políticas do setor de exibição; polemiza com críticos como Moniz Vianna; traduz artigos sobre estética; defende a figura do produtor como elemento central na realização de uma indústria cinematográfica; discute as diferenças entre filmes comerciais e artísticos; e, em sucessivos artigos, dá verdadeiras aulas de técnica cinematográfica, detalhando processos fotográficos, tipos de negativo, revelação, sensitometria, câmeras etc. A coluna Cinema. Comentário do dia é interrompida em janeiro de 1947 pelo próprio titular quando ele se prepara para realizar O malandro e a grã-fina. Despede-se dos leitores com um misto de alívio e de ironia. Não só retornava ao seu ambiente natural (o set de filmagem) como deixava aos críticos que tanto o xingavam uma pequena lição: falar sobre o cinema no Brasil sem conhecer seus meandros e enfronhar-se nas questões técnicas, econômicas ou políticas, era dar um tiro no vazio. Essa lição foi exemplarmente levada à frente por Manoel Jorge, cronista que a partir de 1947 vai seguir os passos de Luiz de Barros não só como colunista de Diretrizes, Democracia e O Mundo, mas também como assistente de produção e direção do realizador de Esta é fina. |
|
Bibliografia | BARROS, Luiz de. Colunas Cinema. Comentário do dia. Diário Trabalhista. Rio de Janeiro: mar 1946-jan 1947. |